Projeto quer mostrar que é possível viver numa aldeia transmontana com o que a terra tem
A localidade de Vilares da Vilariça, em Alfândega da Fé, transforma-se a partir de hoje, e durante cinco dias, num laboratório de experiências para mostrar que é possível viver numa aldeia transmontana com os recursos existentes.
Trata-se das Jornada Imersivas para a Sustentabilidade que são “o pontapé de saída” de um projeto pensado há uma ano e meio e, através do qual, a Inteligência Local – Associação para a Regeneração, Desenvolvimento, e Governanças das Economias Locais quer impulsionar “um movimento migratório” para os territórios do interior de Portugal.
Vilares da Vilariça, no concelho de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, foi a aldeia escolhida para o projeto-piloto, como contou à Lusa Filipe Jeremias, que tem laços familiares nesta localidade e que foi o mentor do projeto da associação para o concretizar.
A ideia é conseguir convencer “150 pessoas” a mudarem-se para a aldeia “até 2030” e Filipe Jeremias aposta “no ano de 2023” para iniciar este “movimento migratório”, a começar por ele e pela família de mais cinco pessoas, como disse à Lusa.
Um dos argumentos da associação é que existem soluções próprias a partir dos recursos existentes para viver nestes territórios, algumas das quais vão ser apresentadas nas jornadas que começam hoje com a expectativa de receberem “cerca de 500 pessoas” na aldeia com aproximadamente 120 habitantes.
“Estamos a propor regenerar a aldeia e promover desenvolvimento local a partir das mais diversas aéreas, desde atração de empregabilidade, turística, de desenvolvimento na área energética, educacional, é uma vasta área de propostas”, apontou.
Nas jornadas, a associação propõe-se mostrar que “é possível a partir dos recursos existentes melhorá-los e fazer com que estes locais sejam mais sustentáveis”, pegando naquilo que já existe e, muitas vezes, não é valorizado.
Ao longo de cinco dias, estão previstos cinco laboratórios, com especialistas em diferentes áreas, sobre a água, a energia, bioconstrução, economia circular e alimentação.
Segundo Filipe Jeremias, vão ser apresentadas evidências de, por exemplo, “como captar e reter melhor a água nos solos, fazendo paisagens de retenção de água”.
Ou como é possível transformar esta numa aldeia sustentável do ponto de vista energético, a partir do sol e da biomassa, com um biocompostor que vai produzir biogás suficiente para alimentar uma boca de um fogão.
Produzir o próprio gás com os desperdícios orgânicos.
Na alimentação, a abordagem é a da transição para a proteína verde e animal, nomeadamente os insetos, e a produção de alimento a partir da água.
Recuperar técnicas ancestrais e tradicionais de construção mais sustentável é o tema na área da bioconstrução, e a compostagem e reutilização de produtos e materiais são o mote do laboratório sobre economia circular.
As jornadas servirão também para mostrar projetos que podem ser desenvolvidos no interior, como exemplo de modelo de negócio para se fixarem na aldeia, nas áreas de produção de insetos, cogumelos, chocolataria artesanal ou fabrico de aventais artesanais.
A iniciativa conta, segundo disse, com participantes de todo o país, nomeadamente um grupo de jovens que o município de Odemira, no Alentejo, decidiu levar a Alfândega da Fé para conhecer este projeto.
De acordo com o responsável, o financiamento deste projeto “é basicamente privado oriundo de vários parceiros”, entre os quais estão “os politécnicos de Bragança, Tomar e Portalegre, a Universidade do Porto” e empresas como a “Movera e Mota-Engil”.
A aposta é transformar Vilares da Vilariça numa “aldeia inteligente, um lugar mais sustentável, mais amigo, mais em contacto com a natureza, mas, sobretudo, olhar para o lugar onde as relações humanas são mais fraternas”, como salientou.
Ainda não há candidatos a fazer o “movimento migratório” para a aldeia, mas os promotores do projeto apostam “no ano 2023 para iniciar o processo.
Para o efeito, estão pensados “um evento relacionado com o nomadismo digital” e “contactos com o Brasil, concretamente pessoas com mais de 55 anos que se querem reformar mais cedo” e queiram investir neste território para passarem alguns meses.