Projeto vai criar santuários de lampreias no Mondego para recuperar população



Um projeto da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra apresentado hoje em Penacova vai levar lampreias adultas para montante da ponte-açude, em Coimbra, e criar santuários para preservar as larvas desta espécie cada vez menos presente no Mondego.

O projeto, com financiamento de fundos europeus e um orçamento de 100 mil euros, será executado ao longo de dois anos, tendo como objetivo contrariar a perda de população de lampreia no Mondego, depois de 2024 ter sido o ano com o menor efetivo daquele peixe no rio, desde que há registos.

Segundo o presidente da Câmara de Penacova, Álvaro Coimbra, o projeto foi espoletado depois de o município ter desafiado a comunidade científica, pescadores e outras pessoas ligadas às atividades do rio para um debate sobre a preservação das lampreias, tendo surgido a ideia de uma ação para proteger o habitat das lampreias na bacia do Mondego.

“São um conjunto de medidas para recuperar o habitat da lampreia no Mondego, relocalizar um conjunto de animais para locais selecionados e a criação de santuários, num projeto que envolve associações de pescadores e comunidades locais”, disse o autarca, recordando que a falta deste peixe é um problema transversal a todos os rios portugueses.

A iniciativa da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIMRC), que foi hoje apresentada na Casa das Artes Martins da Costa, em Penacova, integra um programa europeu, intitulado DALIA, que trabalha a reabilitação de ecossistemas aquáticos.

Segundo Pedro Raposo, diretor do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), instituição que assegura a coordenação técnica e científica do projeto, o objetivo passa pela recuperação da população de lampreia no Mondego.

“A situação está crítica e então vamos acelerar a translocação destes animais. No fundo, vamos comprá-los aos pescadores, a jusante da ponte-açude [em Coimbra], e depois levá-los de carro até montante de Coimbra para serem libertados e encontrarem locais de reprodução”, explicou o investigador da Universidade de Évora.

De acordo com o especialista, a passagem de peixes instalada na ponte-açude que lhes permite subir o rio funciona, mas a eficiência deverá rondar cerca de 30% dos animais que ali chegam.

“Isso seria suficiente para manter a viabilidade das lampreias, mas quando a população atinge níveis críticos é pouco. A ideia passa por aumentar o sucesso de reprodução, libertando os animais a montante, onde vão colonizar troços de rio e estabelecer novas populações de larvas [este peixe fica entre quatro e cinco anos em estado larvar, no leito do rio, antes de ir para o mar]”, aclarou.

Pedro Raposo disse à Lusa que, posteriormente, a equipa do projeto irá monitorizar e avaliar a abundância de larvas, identificando zonas onde se registe uma “densidade elevada”.

Identificados e mapeados esses santuários, a sua localização é disponibilizada às diferentes entidades associadas ao projeto, para garantir que não haverá intervenções no rio que possam destruir “todo o trabalho feito”.

Além disso, os locais onde são libertadas as lampreias adultas serão também partilhados com a GNR, para combater a pesca furtiva e ilegal.

Apesar de o projeto ter apenas um prazo de execução de dois anos, Pedro Raposo considerou que será fundamental assegurar financiamento no futuro para dar continuidade ao projeto, pelo menos, por “mais seis ou sete anos”.

Além disso, o investigador afirmou que também o financiamento deveria ser reforçado.

“As lampreias estão a ser vendidas a 100 euros”, o que pode diminuir o número de peixes translocados por ano, notou.

De acordo com Pedro Raposo, o Mondego “é o único rio onde está a ser feita alguma coisa”, quando o projeto deveria estar a ser replicado em todos os rios de Portugal, que sofrem o mesmo problema, defendendo que o Governo crie medidas nesse sentido.





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