Quantidade de folhas saudáveis é mais importante para a captação de carbono do que duração da época de crescimento



A vegetação é um dos maiores sumidouros de carbono de que o nosso planeta dispõe e, por isso, um aliado fundamental no combate às alterações climáticas, retirando da atmosfera os gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, que são para lá lançados pelas atividades humanas.

Um grupo de investigadores da North Carolina State University e da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, acreditam que usar imagens de satélite permitirá perceber a quantidade de folhas que as plantas produzem durante o ano. Quanto mais folhas, escrevem num artigo publicado na revista ‘Global Biogeochemical Cycles’, mais dióxido de carbono será capturado e retido na forma de biomassa.

Josh Gray, um dos coautores, explica que já se sabe que as alterações climáticas terão um impacto na vegetação, nos seus ciclos de reprodução e na sua capacidade de sobrevivência, e que em algumas regiões do planeta os ciclos de crescimento das plantas ficarão maiores, à medida que a temperatura média da Terra sobe.

No entanto, diz que ainda pouco se sabe acerca de como as alterações climáticas afetarão o ciclo de carbono entre as plantas e a atmosfera. Apesar de algumas espécies poderem beneficiar de climas mais quentes, outras poderão colapsar, algo que influenciará diretamente a concentração de dióxido de carbono na atmosfera.

“Uma primavera antecipada poderá ser boa para a produtividade das plantas, porque temos uma período mais longo de captação de carbono”, aponta Xiaojie Gao, principal autor do artigo. “Contudo, um outono mais duradouro poderá piorar a situação”, uma vez que, segundo explica, nessa altura do ano as plantas, com as folhas acastanhadas praticamente desprovidas de capacidade fotossintética, tendem a emitir mais carbono do que aquele que absorvem.

Analisando imagens de satélite recolhidas entre 2000 e 2014 e as medições de dióxido de carbono recolhidas por sensores no terreno, este cientistas perceberam que a quantidade de folhas produzidas influencia mais o ciclo de carbono do que a duração da estação de crescimento.

Isto é, uma primavera mais longa poderá resultar na absorção de uma menor quantidade de dióxido de carbono atmosférico se a quantidade de folhas verdes (que fazem fotossíntese) for menor.

Gray diz que as folhas verdes e saudáveis não usam radiação infravermelha na fotossíntese e, por isso, refletem-na, surgindo nas imagens de satélite como pontos brilhantes. Quanto mais brilhante é um local, mais folhas ele terá. Assim, os cientistas podem estimar o número de folhas existentes numa determinada área medindo o quão ‘brilhante’ ela é.

Josh Gray detalha que atualmente é possível observar o aumento do número das folhas produzidas pelas plantas em várias regiões do mundo, “particularmente em latitudes mais elevadas”. O investigador assinala que essas alterações “afetam o nível de fotossíntese que acontece”, mas detalha que “a quantidade de folhas que as plantas produzem tem uma associação mais forte com o sequestro de carbono do que as alterações na duração da época de crescimento”.

Os autores acreditam que os modelos de previsão climática deverão ter em conta a produtividade das plantas e a quantidade de folhas com capacidade de fotossíntese, de forma a melhor poderem estimar as tendências de aquecimento do planeta, trazendo para a linha da frente o papel fundamental da vegetação enquanto grande sumidouro de carbono.





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