Quercus contra “retrocesso ecológico grave” da remoção de jacarandás em Lisboa



A associação ambientalista Quercus repudiou hoje o “abate injustificável” de jacarandás na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, considerando que a remoção de 45 árvores prevista no projeto de Entrecampos representa um “retrocesso ecológico grave e desnecessário”.

Em comunicado, a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza denunciou “o abate injustificável de árvores” em “plena crise climática” e que, “num momento em que as cidades devem fortalecer a sua resiliência ambiental, a remoção de 45 jacarandás na Avenida 5 de Outubro representa um retrocesso ecológico grave e desnecessário”.

“Rejeitamos processos pouco transparentes, camuflados por ‘renders’ [representação final de projeto] apelativos, mas marcados por irregularidades: autorizações questionáveis, consultas públicas mal divulgadas e uma comunicação errática com a população”, lê-se na nota.

A organização salientou que, “enquanto se afixaram avisos nas árvores informando sobre ‘intervenções no arvoredo’ — eufemismo para abate —, não houve o mesmo zelo em divulgar a consulta pública” e que foram anunciadas sessões de esclarecimento para 28 de março e 02 de abril, “mas, paradoxalmente, os trabalhos de transplante iniciaram-se a 27 de março”.

“Mais grave ainda, a sessão de dia 28 foi cancelada por ‘falta de lugares’, deixando apenas uma sessão no dia 02. Reduzir a participação cidadã é um sinal alarmante de falta de transparência”, considerou a Quercus.

A associação “repudia veementemente o abate de 25 árvores e o transplante forçado de outras 45, muitas das quais não sobreviverão à mudança”, advogando que “Lisboa precisa de menos carros e mais árvores, de parques e corredores verdes ininterruptos, de solos menos impermeabilizados para mitigar inundações e ilhas de calor”.

“O serviço ecológico prestado por uma árvore adulta é insubstituível: purifica o ar, reduz a temperatura urbana e atua como reservatório de carbono. Substituí-las por exemplares jovens não é uma solução viável, pois muitas não sobrevivem ao primeiro ano e levam décadas a atingir maturidade”, frisou.

Para a Quercus, a remoção destas árvores para a construção de um parque de estacionamento subterrâneo “é um atentado ecológico e viola os princípios da sustentabilidade urbana, além de contrariar a Lei do Restauro Ecológico em vigor”.

“Os jacarandás, espécie emblemática da capital portuguesa, têm um papel crucial na biodiversidade urbana e na regulação térmica da cidade”, vincou a organização.

A decisão da autarquia, refere-se na nota, tem sido “amplamente contestada pela sociedade civil”, com milhares de cidadãos a assinarem petições e a participarem em protestos, com os quais a associação “se solidariza”.

“Lamentamos que tenha sido necessário recorrer a uma providência cautelar para suspender este crime ambiental, quando a obrigação dos representantes eleitos é proteger o património natural e promover espaços urbanos mais sustentáveis e inclusivos”, acrescenta-se.

A Quercus exige uma “reavaliação imediata desta intervenção, acompanhada de um estudo de impacto ambiental transparente e de uma participação pública efetiva” e apelou “às autoridades competentes que travem este atentado” contra o arvoredo urbano de Lisboa e adotem “medidas concretas para a sua proteção e valorização”.

“Uma árvore adulta é um ecossistema vivo e insubstituível. Não podemos permitir que a sustentabilidade da cidade seja sacrificada em nome de interesses imediatistas”, sublinhou a associação, preconizando “soluções de mobilidade inteligentes, transportes públicos eficientes e um planeamento urbano verdadeiramente centrado nas pessoas e na sua relação com o meio ambiente”.

A Câmara de Lisboa adiou na sexta-feira a sessão de esclarecimento relativa ao projeto de Entrecampos, que implica a remoção de jacarandás, e, dado o elevado número de interessados em participar, vai promover uma sessão única, na quarta-feira, a partir das 18:30, no Fórum Lisboa, na Avenida de Roma.

Numa nota, a autarquia referiu que iniciou na sexta-feira a plantação de novos jacarandás na Avenida 5 de outubro e zonas limítrofes (10 novos jacarandás nesse dia e cinco no sábado).

A Câmara disse ainda no comunicado que “dos 75 jacarandás que iriam ser removidos daquele local, o atual executivo conseguiu salvar 50”.

“Está ainda garantida a plantação de mais 200 jacarandás em diversos locais da cidade de Lisboa”, acrescentou.

Em questão está a construção de um parque de estacionamento subterrâneo, no âmbito da operação urbanística de Entrecampos, nos antigos terrenos da Feira Popular.

Contra este processo, a petição “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro”, criada em 21 de março – Dia da Árvore, reúne hoje mais de 53.600 assinaturas.

 






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