‘Químicos eternos’ detetados no sangue de centenas de espécies de animais selvagens em todo o mundo



Mais de 330 espécies de animais em todo o mundo, desde os ursos polares aos tigres, passando pelos pandas, pelos macacos, golfinhos e peixes, estão a enfrentar uma nova ameaça que não pára de crescer: substâncias perfluoroalquiladas (PFAS), uma classe de milhares de químicos sintéticos também conhecidos como ‘químicos eternos’, devido à sua capacidade de resistir à degradação.

A conclusão é de uma análise da organização não-governamental Environmental Working Group (EWG), publicada esta semana, e que se baseia em mais de uma centena de estudos científicos recentes, que detetaram mais de 120 PFAS no sangue de animais desses grupos em quase todos os continentes da Terra.

Só na Antártida não foram encontrados animais contaminados com essas substâncias. Contudo, a EWG diz que isso não é sinal de que não há contaminação nesse continente gelado, mas que, ao invés, não existem estudos recentes que permitam retirar conclusões concretas e atualizadas sobre essa região remota do planeta.

As PFAS são libertadas por uma variedade de produtos, tais como embalagens de comida, roupas, tintas e até pelas panelas e tachos que usamos, uma vez que essas substâncias são frequentemente usadas para reduzir a aderência das superfícies. Além de as podermos estar a ingerir diretamente, os ‘químicos eternos’ acabam por chegar ao ambiente através, por exemplo, das descargas de águas residuais, persistindo nos habitats durante muito tempo e entrando nas teias tróficas e, consequentemente, acumulando-se nos organismos, com efeitos altamente prejudiciais.

Dizem os especialistas que as PFAS, mesmo em doses pequenas, estão associadas a reduções das respostas imunitárias, a problemas reprodutivos e no desenvolvimento e a um maior risco de cancro, entre outras ameaças para a saúde dos organismos vivos.

“Esta nova análise mostra que quando as espécies são testadas para a presença de PFAS, esses químicos são detetados”, salienta David Andrews, cientistas da EWG, que alerta que este tipo de poluição “não é um problema apenas para os humanos”, mas também para outras espécies de animais em todo o mundo.

Para mostrar a verdadeira escala do problema, os especialistas criaram um mapa interativo que “claramente capta a dimensão da contaminação da vida selvagem por PFAS em todo o mundo”, aponta Andrews.

O mapa contém uma grande variedade de animais, incluindo várias espécies de peixes, de aves, de répteis e de anfíbios, bem como de grandes mamíferos, como o cavalo e o urso polar, e também de pequenos, como os gatos. Algumas das espécies afetadas pelos PFAS estão atualmente já classificadas como estando ameaçadas, pelo que este será ainda mais um fator de pressão, juntando-se à perda de habitat, à degradação dos ecossistemas e aos efeitos das alterações climáticas.

“O mapa conta uma história acerca destes químicos”, afirma Tasha Stoiber da EWG, “eles são globais, são persistentes e tóxicos, e estão a espalhar-se pelos animais e pelos humanos através do ar, da água e do solo”.

Por sua vez, Ken Cook, presidente dessa organização, observa que “existem ainda incontáveis outras localizações e espécies por todo o mundo que provavelmente estarão contaminadas, mas ainda não foram testadas”.

O responsável avisa que “a poluição por PFAS é um problema global” e que este mapa “é apenas o começo”, e será continuamente atualizado à medida que forem surgindo novos dados.

Perante este cenário preocupante, os especialistas defendem que é preciso fazer mais, e mais depressa, para estancar as descargas industriais para o ambiente que estão repletas de ‘químicos eternos’.

“Durante décadas, os poluidores têm, impunemente, despejado PFAS no nosso ar, nos nossos rios, aquíferos, lagos e baías”, acusa Scott Faber, da EWG, instando os governos e instituições internacionais a fazerem mais e a fazerem melhor para proteger os ecossistemas da ameaça galopante dessas substâncias altamente persistentes.





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