Raquel Rebelo de Mira, Philips: “Estamos a estudar um modelo ‘pay-per-scan’”
Produtos desenhados para uma fácil desmontagem, uma maior taxa de recuperação de peças e componentes – para posterior reutilização –, extensão do tempo de vida útil dos produtos, aumento da eficiência energética e a aposta num modelo de pay-per-scan – que levará a empresa a “vender” a performance do seu equipamento e não o equipamento em si.
Estas são algumas das apostas da Philips para a sua área de negócio ligada à saúde, de acordo com a business partner Health System da Philips Healthtech, a portuguesa Raquel Rebelo de Mira – licenciada em Engenharia do Ambiente pela Universidade Lusófona e que regressou recentemente a Portugal para participar na abertura das inscrições da Ponto Verde Open Innovation.
Em entrevista exclusiva ao Green Savers, a responsável pela sustentabilidade da área de saúde da multinacional holandesa explicou a estratégia da marca para a reutilização e reciclagem de equipamentos e eficiência energética. E revelou como a indústria se está a preparar para uma nova era da sustentabilidade.
Como é que a Philips está a preparar a sua área de negócio ligada à saúde para a sustentabilidade e economia circular?
A sustentabilidade na Philips é parte integrante do seu DNA e está presente na agenda estratégica da companhia. Para a Philips manter um crescimento económico sustentável, o seu programa de sustentabilidade visa a redução da sua pegada ecológica, agindo em três áreas fundamentais – Inovação Verde (Green Innovation), Operações Verdes (Green Operations) e Economia Circular.
Ao nível da economia circular, e no que respeita especificamente ao nosso portfólio de Health Systems, estamos a expandir a nossa actividade de refurbishing e a melhorar a infraestrutura de logística de retorno de equipamentos elegíveis [à condição de] refurbshiment (“renovação ou remodelação”, em português). A Philips está também a estudar um modelo de “pay-per-scan” como parte do nosso programa de Green Healthcare.
Paralelamente, o nosso programa de Ecodesign permite que os nossos produtos sejam desenhados para fácil desmontagem, o que resulta numa operação de reparação mais fácil, com base na recuperação de peças e componentes para posterior reutilização. O programa de Ecodesign trabalha também as áreas de eficiência energética, redução de material de embalagem, redução do peso dos sistemas, redução da radiação (para alguns equipamentos) e redução ou eliminação de certas substâncias, extensão do tempo de vida útil dos equipamentos.
O nosso programa de recolha de peças e componentes (spare parts harvesting) permite a recuperação de materiais essenciais que estão funcionais e que, após os devidos controlos de qualidade, serão reutilizados nos novos sistemas ou como peças de reparação e manutenção de sistemas.
Finalmente, a Philips age ao nível dos contratos de serviço e propostas de valor para o cliente. Estas propostas de serviço permitem, paralelamente, a fidelização com o cliente e aumentar o tempo de vida útil do produto instalado. Por outro lado, a Philips está a rever os seus modelos de serviços ao cliente para que possa introduzir mais serviços baseados nos conceitos acesso e performance.
De que forma é que a Philips reutiliza – ou garante a reutilização – dos equipamentos ou dos seus diversos componentes?
Através do nosso programa de Refurbishing e do programa de Parts Harvesting (recolha de peças e componentes).
O que acontece a um equipamento Philips quando chega ao seu fim de vida? Pode ser reciclado? Como decorre este processo?
Um equipamento Philips que chega ao fim de vida e que, após avaliação, é elegível para ser reciclado, é transportado para um reciclador devidamente licenciado.
Como é que empresas como a Philips olham para a eficiência energética dos equipamentos de diagnóstico e tratamento ligados à área da saúde?
A Philips considera muito importante esta área, especialmente porque os equipamentos de diagnóstico de imagem são grandes consumidores de energia. Desta forma, a Philips aderiu ao acordo voluntário de eficiência energética desenvolvido pela Cocir (european trade association representing the medical imaging, health ICT and electromedical industries). Este acordo chama-se SRI (seft regulatory initiative for medical imaging equipment).
Além disso, as Business Units de equipamento de imagem revêem os seus projectos de desenvolvimento de produtos anualmente e estudam como optimizar o design do equipamento em termos de eficiência energética. Este processo faz parte do programa de Ecodesign da Philips.
De que forma a experiência da Philips noutras áreas – iluminação e eletrónica de consumo – pode ser utilizada no sector da saúde de forma a aumentar a sustentabilidade de um produto ou processo?
Cada grupo de produtos tem as suas características próprias – os produtos em si, o mercado onde são comercializados, o tipo de consumidores a que são dirigidos. Daí que cada grupo de negócio – business group – necessite de rever os seus modelos e explorar as suas estratégias próprias. No entanto, aspectos como a eficiência energética, reutilização de peças, reciclagem, prolongar o tempo de vida útil do produto ou a redução da quantidade de embalagens são aspectos comuns.
Em termos globais, quais os principais desafios do sector da saúde no que toca à reciclagem, reutilização e economia circular?
Em geral, o estabelecimento de uma vasta infraestrutura que permita a recuperação dos sistemas e materiais, preservando a sua qualidade e a sua recuperação em volumes significativos, é um dos aspectos essenciais a ser desenvolvidos para que se possam implementar modelos de economia circular.
Igualmente, [é necessária] a remoção de barreiras legislativas para que o transporte destes sistemas ou peças e componentes entre os vários países seja mais fluido, eficaz e económico.
Como é que uma licenciada em Engenharia Ambiental chega a business partner de uma área de negócio da Philips?
A minha função é dedicada à sustentabilidade e tem por base o conhecimento ambiental adquirido durante a minha licenciatura. Do estudo de engenharia até à Philips foi um percurso profissional delineado por opções que fiz e que me direccionaram até esta empresa. As características da empresa e o seu portfólio de produtos são de grande interesse para mim e, por isso, uma escolha consciente para aplicar o meu conhecimento-base e percorrer com a Philips este caminho da sustentabilidade.