Regar as árvores das cidades pode reduzir a sua tolerância à seca



Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos revela que a rega artificial das árvores nas cidades pode diminuir a sua capacidade para tolerar as condições de seca, fenómenos que, de acordo com o consenso científico, tenderão a aumentar de frequência e de intensidade ao longos das próximas décadas, fruto das alterações climáticas provocadas pela ação humana.

Assim, adaptar as nossas cidades a um planeta mais quente e a um clima mais austero exige compreender como as árvores em meio urbano usam a água que têm à disposição e como isso afeta a sua capacidade para captar e armazenar carbono.

Analisando 30 espécies de árvores em áreas urbanas no sul do estado norte-americano da Califórnia e comparando-as com indivíduos da mesma espécie no meio natural, os cientistas perceberam que as árvores citadinas usam muito mais água do que os ‘parentes’ selvagens, “mesmo árvores que se consideram que são resistentes à seca”, aponta Peter Ibsen, especialista em botânica a agência geológica dos EUA e principal autor do artigo publicado na ‘Biology Letters’.

Entre as espécies de árvores urbanas estão o eucalipto, a figueira, a flor-de-Merenda (Lagerstroemia indica), o liquidâmbar, o carvalho, o jacarandá, o plátano e a aroeira.

Os autores do artigo explicam que as árvores que se consideram serem resistentes à seca tendem a reduzir o seu consumo de água em condições de escassez para evitar que morram quando as temperaturas aumentam. Mas os resultados do estudo mostram que, à exceção da figueira, todas as espécies abrangidas aumentam o uso de água quando está mais calor, com Ibsen a afirma que quando lhes é fornecida água extra, com rega artificial, “elas usam-na”, não se verificando qualquer racionamento.

Por norma, pelo menos no ambiente que lhes é natural, as árvores com troncos mais densos absorvem menos quantidade de água pelas raízes e apresentam um ritmo de crescimento mais lento. Por outro lado, as árvores com troncos menos densos são as que costumam mover mais água.

No entanto, nas cidades, não é isso que acontece, pois os investigadores constataram que mesmo árvores com troncos densos movem grandes quantidades de água.

Além das diferenças no consumo de água, o estudo revelou que as árvores das cidades absorvem mais dióxido de carbono (CO2) do que indivíduos da mesma espécie na natureza, aumentando a sua capacidade fotossintética e, por isso, permitindo que desenvolvam copas mais frondosas.

São essas disparidades, que são significativas, que levam os cientistas envolvidos neste trabalho a sugerir que as árvores urbanas têm mesmo uma ecologia diferente das suas ‘parentes’ salvagens, e que as “florestas urbanas” são únicas, embora possam ser constituídas por espécies encontradas noutras regiões do planeta.

Os especialistas ainda não sabem ao certo de as árvores que são regadas artificialmente, e que por isso consomem mais água do que os indivíduos selvagens, conseguem recuperar a sua tolerância à seca ou se essa mudança de comportamento é permanente. Se assim for, essas árvores tornam-se mais vulneráveis à escassez de água e a sua sobrevivência estará em risco numa Terra cada vez mais quente.

Ainda assim, Ibsen diz que as espécies tolerantes à seca não devem ser irrigadas e que se comprarmos uma dessas espécies, “deixemo-las tolerar a seca” para que não percam a sua resiliência, que será tão necessária no futuro que se avizinha.





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