Resíduos têxteis transformados em sofá em fábrica na Covilhã



A empresa J. Gomes, de reciclagem de fibras têxteis, na Covilhã, colaborou com a designer austríaca Anna Resei para, a partir totalmente de desperdícios, criar um sofá que mostre as potencialidades do eco design.

A estrutura da peça, que pode ser uma espreguiçadeira ou um sofá, foi feita com restos de ferro que vão ficando da montagem das máquinas por Rui Gomes e pela equipa de manutenção da unidade do Canhoso, onde a roupa que já não é utilizada ou as sobras da indústria são trituradas.

Os tecidos e enchimento foram trabalhados na fábrica do Tortosendo, onde diariamente entram camiões com têxteis e que acabam, maioritariamente, convertidos em fio reciclado.

A proprietária, Catarina Gomes, informou que a empresa trata anualmente um milhão de toneladas de fibras têxteis, que desta forma não vão parar a aterros ou incineradas, e defendeu que quem trabalha no setor, na moda, no design, deve pensar em outros enquadramentos para a reciclagem, pensar na economia circular e na sustentabilidade.

O sofá resultou de uma residência proposta pela Trienal Internacional de Design da Covilhã, onde a peça está exposta, e Catarina Gomes frisou que a empresa está sempre “aberta a novos desafios” e a experiência foi “uma aprendizagem” e uma oportunidade para refletir sobre novas abordagens aos materiais.

A J. Gomes tem espalhadas caixas para recolha de roupa estragada, as Reuse Box, e a empresária sublinhou, em declarações à agência Lusa, que a peça foi feita “com a roupa que os covilhanenses já não usariam, depois de triturada”.

Quando recebeu a proposta, Catarina Gomes idealizou um sofá muito maior, onde várias pessoas se pudessem sentar, “a confraternizar com o resíduo”, mas a designer Anna Resei explorou outros caminhos.

“A estrutura convida a múltiplas formas de sentar ou reclinar e o núcleo é formado por rolos horizontais de tecido, cada um com um diâmetro diferente, criando uma superfície dinâmica que se adapta ao número de pessoas que nela descansam”, explicou, em declarações à agência Lusa, a designer de produto Anna Resei.

A criadora acrescentou que os rolos podem ser reorganizados ou substituídos e que “cada componente foi concebido para facilitar a manutenção, a reparação e a eventual reciclagem”.

Embora não seja essa a principal atividade da empresa, Catarina Gomes referiu que já são comercializadas peças de roupa feitas a partir de material reciclado e admite que da experiência possa resultar o desenvolvimento, na J. Gomes, de uma microcápsula de sofás feitos “com os resíduos que a fábrica gerou”.

A empresária alertou para a necessidade de agir em função da sustentabilidade.

“Temos de pensar na reserva natural do planeta, pensar-se num equilíbrio” que passe por uma maior reutilização dos materiais.

Catarina Gomes disse que a empresa, no distrito de Castelo Branco, “está sempre a pensar e a andar”, aberta a ideias, e advertiu que é importante “envolver a sociedade no conhecimento do que é a reciclagem”, para que esse trabalho seja feito em conjunto e se evite o desperdício.

Anna Resei afirmou que, enquanto designer, nem sempre é fácil “conseguir um contacto e uma entrada numa empresa” e manifestou-se agradecida pela possibilidade de trabalhar “aproveitando o que já está disponível, reduzindo o desperdício e acrescentando uma narrativa única a cada peça”.

A J. Gomes emprega 30 pessoas e Catarina Gomes prevê que dentro de cerca de um mês a segunda linha, em fase de testes, esteja a operar, o que implica a contratação de mais cinco a dez pessoas, depois de em 2022 um incêndio ter destruído uma das unidades.

Da residência, a empresária destacou a “junção de tantas entidades” envolvidas e enfatizou que é o que espera que aconteça no setor e na sociedade em torno do reaproveitamento, porque “na sinergia e na partilha é que está o ganho”.






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