Richard Branson investiu em sustentabilidade apenas 7,6% do que prometeu
Em 2006, o empreendedor e fundador da Virgin, Richard Branson, fez uma declaração bombástica: na próxima década, ele iria investir €2,3 mil milhões (R$ 7 mil milhões) em negócios e tecnologias sustentáveis.
Branson explica na sua autobiografia, Screw it, Let’s Do It, que ficou impressionado quando Al Gore, então em digressão mundial com o projecto Uma Verdade Inconveniente, lhe explicou os perigos das alterações climáticas. “Ouvia Gore e pensei que estava a olhar para o Armagedão”, revelou o empresário.
Meses depois, Branson estava na Clinton Global Initiative a prometer gastar €2,3 mil milhões (R$ 7 mil milhões), na próxima década, para desenvolver biocombustíveis como alternativa ao petróleo e gás, e noutras tecnologias para combater as alterações climáticas. O mundo ficou entusiasmado com a promessa de Branson – Clintou apeliou-a de “percursora”-, sobretudo porque ela seria subsidiada pela altamente poluente Virgin Atlantic.
Oito anos depois, a jornalista Naomi Klein, do jornal Guardian, investigou para onde foi este dinheiro e descobriu que… não há dinheiro. Branson investiu, nos últimos oito anos, €177 milhões (R$ 577 milhões) em projectos ligados à sustentabilidade – menos de um décimo do que tinha prometido, quando falta pouco mais de um ano para o prazo terminar.
“Para muitos ecologistas mainstream, Branson parecia um sonho tornado realidade: um querido dos media que mostra ao mundo que as empresas altamente poluentes podem liderar o caminho para um futuro verde, utilizando os lucros como a sua arma mais potente”, esclareceu Klein – que acusa Bill Gates e Michael Bloomberg, ainda que em doses menores, do mesmo tipo de hipocrisia.
Segundo Klein, Branson começou por investir €100 milhões (R$ 303 milhões) num negócio de biocombustíveis a partir de etanol. Porém, o investidor concluiu que a tecnologia ainda não estava suficientemente desenvolvida e diversificou os investimentos.
Em 2009, Branson defendeu-se da promessa em entrevista à Wired: “Não interessa se invisto dois, três ou quatro mil milhões, não é relevante”. Então, ele culpava a crise económica pelos seus parcos investimentos. “O mundo estava muito diferente em 2006… nos últimos oito anos a minha companhia aérea perdeu centenas de milhões de dólares”.
Desde 2006 – o ano da promessa – as companhias aéreas de Branson aumentaram as emissões de gases com efeito de estufa em 40%. Depois há a equipa de Fórmula Um e a Virgin Galactic, que espera lançar o primeiro vôo espacial comercial. Só neste projecto, segundo a Fortune, Branson terá gasto €150 milhões (R$ 467 milhões).
Prometer investir em inovações sustentáveis é fácil – o difícil é cumprir as promessas. E nem Richard Branson escapa a esta realidade.
Foto: Jarle Naustvik / Creative Commons