Roland Busch, Siemens: “A população urbana aumenta a um ritmo de duas pessoas por segundo”



No final de Novembro, a Siemens anunciou o lançamento de uma nova unidade de negócio ligada às infra-estruturas e cidades, um sector que vale €300 mil milhões (R$ 686 mil milhões) por ano.

O Green Savers falou com o CEO mundial da área de Cidades & Infra-estruturas e membro do conselho de administração da Siemens, Roland Busch, sobre o que levou a multinacional alemã a tomar esta decisão e os planos para o curto e médio prazo.

“As nossas estimativas indicam que o mercado de infra-estruturas e cidades crescerá 3 a 5% ao ano, desde que não haja recessão económica”, revelou Busch. Leia a entrevista.

 

No final do ano passado, a Siemens lançou uma nova área dedicada às Cidades & Infra-estruturas, unidade de negócio de que é CEO. Porque razão foi tomada esta decisão?

As oportunidades de negócio para o mercado de infra-estruturas e cidades são excelentes. A população mundial continua a crescer e não há fim à vista. Em 2009, e pela primeira vez na história da humanidade, mais de metade da população mundial vivia em áreas urbanas e este número não pára de crescer. Por outro lado, e ainda de acordo com as estatísticas disponíveis, a população urbana aumenta a um ritmo de duas pessoas por segundo.

Este desenvolvimento acarreta, sem dúvida, enormes desafios para as cidades, quer nos países desenvolvidos quer nos países emergentes. Muitas cidades são selvas de betão: o transporte de mercadorias e de pessoas causa congestionamentos de trânsito que demoram horas a ultrapassar, as necessidades de água potável e de ar puro são desafios constantes e calcula-se que o consumo de energia aumente de 21 quilowatt-hora em 2010 para cerca de 36 quilowatt-hora em 2030.

No portfólio do novo sector, os produtos e soluções estão orientados para ajudar as cidades a gerir este desenvolvimento de forma sustentável. Oferecemos às cidades aquilo que necessitam para continuar ou tornar-se lugares habitáveis e centros económicos atraentes. Este último aspecto é importante por duas razões: as cidades competem fortemente pelo investimento internacional e, por outro lado, estima-se que cerca de 80% do PIB mundial é gerado nas cidades.

A Siemens, como líder em tecnologias de infra-estruturas verdes, e com o foco do novo sector rigorosamente orientado para as cidades, calcula o seu próprio potencial de mercado em €300 mil milhões (R$ 686 mil milhões) por ano.

E é uma área que terá um forte crescimento no futuro…

Não tenho dúvidas de que a urbanização continuará a ser uma das megatendências mundiais. Quando a população e a economia estão em crescimento, tem de haver investimento em infra-estruturas.

Este mercado vale €300 milhões (R$ 686 milhões) para a Siemens. Quanto espera crescer nos próximos tempos?

As nossas estimativas indicam que o mercado de infra-estruturas e cidades crescerá 3 a 5% ao ano, desde que não haja recessão económica.

A Siemens está também a preparar três novos centros de Investigação & Desenvolvimento (I&D), para os mercados inglês, norte-americano e asiático. Quais serão as suas competências?

O Centro de Competência Cidades global estará localizado em Londres, no edifício Crystal. Terá uma responsabilidade muito mais abrangente no que se refere à estratégia de sustentabilidade urbana e ao desenvolvimento dos negócios na área de City Account Management.

Os centros regionais para os continentes da América e da Ásia estarão localizadas nos Estados Unidos e na China, respectivamente. Os locais exactos serão anunciados em breve. Estes centros são  complementos do centro em Londres, tendo como foco primário as necessidades específicas das regiões das Américas e da Ásia. A configuração regional é fundamental para garantir compatibilidade optimizada entre as soluções e os níveis de desenvolvimento das cidades nessas regiões.

Eficiência energética, emissões de CO2, edifícios e transportes… as cidades têm muitos desafios à sua frente, sendo que nem todos estão em fases iguais de desenvolvimento sustentável.

Todas as cidades têm em comum o facto de… terem necessidades específicas. Muitas cidades já definiram objectivos claros para gerir um crescimento sustentável, reduzindo, por exemplo, as emissões de CO2.

Outras cidades de países em desenvolvimento como, por exemplo, a cidade de Luanda, ainda carecem de grande parte das infra-estruturas urbanas. Paradoxalmente, isto é até uma oportunidade de saltar por cima das soluções desenvolvidas na era industrial e pós-industrial, e passar directamente para as soluções do século XXI.

A nossa grande vantagem competitiva no sector é oferecermos soluções integradas para ambas, capazes de resolver não apenas aspectos parciais de um problema, mas o problema no seu todo.

Estaremos onde houver crescimento, e ao longo dos próximos 15 anos, a importância económica das cidades crescerá a um ritmo maior que a economia mundial.

Quais as soluções da Siemens nas áreas de edifícios e trânsito?

O desempenho eficiente de edifícios é uma das abordagens por excelência para optimizar eficiência energética e custos de energia. A utilização de produtos e sistemas de automação integrados para edifícios, controlando aquecimento, ventilação ou ar condicionado, é uma das maneiras para consegui-lo. Isso faz muito sentido uma vez que os edifícios, em geral, consomem enormes recursos. De facto, são responsáveis por cerca de 40% do consumo mundial de energia e 21% de todas as emissões de C02.

E em relação aos congestionamentos? Que soluções podem ajudar as cidades e ultrapassar este quebra-cabeças diário?

Não existem soluções universais. O que nós oferecemos às cidades são soluções individualizadas. Deixe-me dar um exemplo. Em 2007, iniciámos rondas de conversações específicas com decisores, relativas a uma série de medidas destinadas à cidade de Londres. Com base nesta iniciativa, conseguimos encomendas para um sistema de portagem e gestão de trânsito urbano, um sistema de navegação por satélite para autocarros e para autocarros híbridos. Globalmente, o conceito implementado resultou no aumento do fluxo de trânsito em quase 37% e numa redução de 150.000 toneladas das emissões de CO2 na cidade de Londres.

Como está a lutar a Siemens contra a falta de investimento das cidades e Países, devido sobretudo à crise económica global?

Quando a população e a economia estão em crescimento, tem de haver investimento em infra-estruturas. O ambiente financeiro poderá causar alguns atrasos, mas a pressão para investir é enorme. Além disso, a Siemens oferece soluções como contratos de performance energética que minimizam o investimento para nossos clientes. Outras soluções, como o sistema de portagens, até são uma ajuda para os cofres públicos.

 





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