Saigas, gorilas, jaguares e manatins: Conheça seis espécies que estão a ser salvas da extinção pela recuperação dos ecossistemas



Atualmente, estima-se que um milhão de espécies, de um total de oito milhões, estejam ameaçadas de extinção em todo o mundo. A perda de habitats em terra e no mar estão a fazer emergir o que já é conhecido como a ‘sexta extinção em massa’, fazendo cair populações de animais e plantas.

Os serviços fornecidos às sociedades humanas pelos ecossistemas, como alimentação, água doce e proteção contra fenómenos climáticos extremos e doenças “estão a degradar-se em muitos lugares”, alerta o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP). Contudo, apesar de o cenário se pintar com cores escuras, ainda há esperança, e esforços de recuperação de espécies ameaçadas são a prova de que havendo vontade – e recursos – é possível reverter a perda de biodiversidade.

A saiga é um exemplo dessa possibilidade. Aparentado com o antílope e facilmente reconhecido pelo seu focinho alongado, este mamífero ungulado natural do Cazaquistão costumava percorrer as pradarias desde a Europa até à China, mas a perda de habitat, a disrupção das suas rotas migratórias e surtos de doenças levaram a um declínio acentuado e alarmante do número de indivíduos.

No entanto, o UNEP aponta que graças à Iniciativa de Conservação Altyn Dala, promovida pelo governo cazaque, que tem como objetivo preservar as estepes nessa região do globo, o número de saigas na natureza subiu de cerca de 50 mil animais em 2006 para mais de 1,3 milhões nos dias de hoje.

Nas florestas da África central, existem aproximadamente mil gorilas-das-montanhas na natureza. Apesar de esse número estar ainda aquém do desejado, o UNEP afirma que representa “um aumento estável” desde a década de 1980, fruto do trabalho de conservação e recuperação feito sobre essa espécie de primata.

Metade dessa população remanescente habita área protegidas que cruzam as fronteiras do Uganda, do Ruanda e da República Democrática do Congo. No entanto, apesar dos esforços, o gorila-da-montanha permanece ameaçado, especialmente devido à caça, às alterações climáticas e às doenças.

Os trabalhos de conservação dessa espécie passam, por exemplo, pela remoção de árvores exóticas em mais de mil hectares do Parque Nacional Mgahinga, no Uganda, para que vegetação nativa possa florescer e criar condições mais favoráveis à recuperação do gorila-da-montanha.

Conta a World Wildlife Fund (WWF) que, apesar dos conflitos civis, da caça furtiva e da expansão das populações humanas, “as populações de gorilas-das-montanhas têm aumentado em número”.

Outro caso de sucesso de programas de conservação envolve o jaguar, dependente do bioma conhecido como Mata Atlântica, que se estende pela costa brasileira, passa pelo leste do Paraguai e alcança a Argentina. Explica o UNEP que mais de 80% dessa área florestal tem sido perdida para atividades como a agricultura, a indústria da madeira e para a instalações de infraestruturas.

Porém, “esforços abrangentes de restauro estão a ser realizados para contrariar a fragmentação severa deste ‘ponto quente’ de biodiversidade”, incluindo a revitalização de florestas em terras abandonadas e a criação de corredores que permitem que os animais possam transitar de uma área protegida para outra em segurança.

As estimativas apontam para um aumento de 160% desde 2005 da população de jaguares que reside na região norte do Paraná, fruto da redução da desflorestação e da recuperação de milhares de hectares de floresta.

Outro animal ameaçado de extinção que tem sido um dos focos de trabalhos de conservação é o manatim, um mamífero marinho a meio caminho entre o golfinho e a foca e que é comummente conhecido como ‘vaca-marinha’.

Este mamífero herbívoro marinho, o único do mundo, que se diz ter estado na origem do mito das sereias, tem vindo a desaparecer devido à caça, a mortes provocadas por redes de pesca e à perda das extensões de ervas marinhas que são a base da sua alimentação.

Mas nos últimos redutos do manatim, em particular, na Arábia Saudita, em Moçambique e no Golfo Pérsico, o trabalho desenvolvido pelos conservacionistas permitem ter alguma esperança na recuperação deste animal e na sua retirada da lista de espécies ameaçadas de extinção.

“Nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, Abu Dhabi tem planos para recuperar mais 12 mil hectares de florestas de mangues, recifes de coral e pradarias marinhas, em adição aos 7.500 hectares já revitalizados”, explica o UNEP, o que se espera que tenha um impacto positivo nas populações de manatins.

Quanto aos répteis, a agência das Nações Unidas destaca a Alsophis antiguae, uma serpente inofensiva nativa da pequena nação insula de Antígua e Barbuda, nas Caraíbas, cuja população está ameaçada por mangustos não-nativos que foram introduzidas no país na década de 1890 como método de controlo de ratos.

Fonte: Wikimedia/Antiguan Racer

Esse desequilíbrio ecológico fez com que, em 1995, restassem apenas 50 dessas serpentes nessa região. Contudo, programas de recuperação permitiram que essa espécie de réptil subisse para mais de 1.100 indivíduos.

Por fim, o UNEP revela que o abetouro tem vindo a recuperar devido ao restauro de paisagens húmidas, que foram degradadas pela atividade industrial, por exemplo, no Reino Unido.

“O chamamento ribombante do abetouro soa uma vez mais nos lagos e nos canaviais de muitas terras húmidas em Inglaterra, incluindo em antigas minas de carvão convertidas em reservas naturais”, aponta a agência internacional, que destaca que há 20 anos essa ave estava no limiar da extinção no Reino Unido.

“Em todo o mundo, as terras húmidas são dos tipos de ecossistemas mais fortemente degradados”, avisam os especialistas, indicando que nos últimos 50 anos se perderam mais 30% desses habitats naturais e que cerca de 4.500 espécies que dependem dessas zonas alagadas fazem parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Inger Andersen, diretora-executiva do Programa Ambiental das Nações Unidas, argumenta que “um milhão de espécies no nosso planeta enfrentam a ameaça da extinção”, mas acredita que “isso não significa que não possamos resgatá-los”.





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