Se não travarmos a perda de biodiversidade, podemos assistir a um “colapso total” dos ecossistemas



Ao longo da História da Terra ocorreram várias extinções em massa. O estudo dos registos geológicos indica que, pelo menos, cinco eventos desses terão devastado entre 75% e 90% de todas as espécies nos últimos 500 milhões de anos.

A Ciência diz-nos que o maior desses eventos terá acontecido há cerca de 252 milhões de anos, marcando a passagem do período Pérmico para o Triásico, que ficou conhecido como ‘Great Dying’, ou ‘A Grande Mortandade’, numa tradução livre para português. Fortes alterações climáticas geradas por erupções vulcânicas de grandes dimensões terão sido a causa da extinção de 95% de todas as espécies do planeta.

Um grupo de cientistas da Universidade de Geociências, na China, e da Universidade de Bristol, no Reino Unido, procurou estudar as causas que levaram ao colapso dos ecossistemas marinhos durante esse evento de extinção massiva para poderem compreender melhor os fatores que estão a provocar, nos dias que vivemos, o que já é classificado como a ‘Sexta Extinção’, impulsionada pela ação dos humanos sobre o planeta.

“Estamos atualmente a perder espécies mais rapidamente do que em qualquer evento passado de extinção na Terra”, assinala Yuangeng Huang, um dos coautores do artigo publicado na revista ‘Current Biology’.

O investigador acredita que poderemos estar “na primeira fase de outra extinção em massa” que será “mais severa” do que qualquer outra, e alerta que, embora não seja ainda possível identificar com precisão qual será o ‘ponto de não retorno’, o “colapso total” dos ecossistemas” será “um resultado inevitável se não revertermos a perda de biodiversidade”.

A equipa analisou fósseis recolhidos no Sul da China, que era um mar pouco profundo durante da transição do Pérmico para o Triásico, para recriarem o ambiente marinho desses tempos longínquos, quer antes, quer durante e após a extinção massiva. O objetivo era “melhor compreender a série de eventos que levou à desestabilização ecológica”, explicam.

Com esses fósseis os cientistas reconstruiram as teias tróficas e restabeleceram relações de predação, para poderem recriar o ecossistema de então. Os registos recolhidos na China, diz Michael Benton, da Universidade de Bristol, permitiram examinar, “passo a passo”, o evento levou à morte da vida marinha devido ao choque térmico, à acidificação dos oceanos e a uma redução drástica da quantidade de oxigénio dissolvido na água do mar.

Além da catástrofe, o registo fóssil possibilitou também o estudo da recuperação que se seguiu.

“A extinção do Pérmico-Triásico serve de modelo para o estudo da perda de biodiversidade hoje no nosso planeta”, afirma Peter Roopnarine, outro dos autores, apontando que “neste estudo, determinámos que a perda de espécies e o colapso ecológico ocorreram em duas fases distintas”, sendo que a segunda aconteceu aproximadamente 60 mil anos depois da primeira ter começado.

Durante a primeira fase, apesar da perda de espécies, as funções ecológicas ter-se-ão mantido, uma vez que as espécies que restavam conseguiam ocupar o lugar deixado pelas que iam desaparecendo, sendo que o que se observou foi, sobretudo, o que pode ser entendido como a eliminação de uma ‘redundância ecológica’. No entanto, na segunda fase, os que tinham resistido acabaram por desaparecer e, com eles, ruiu também a estabilidade dos ecossistemas.

Explicando que terá sido causado por uma atividade vulcânica muito intensa que fez disparar a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, os investigadores dizem que esse evento apresentava características “semelhantes” às alterações ambientais que estão hoje a ser alimentadas pelos humanos.





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