Seca ameaça traças no Reino Unido. Conservacionistas pedem melhor gestão da água para evitar extinções locais



As alterações climáticas, que têm vindo a transformar os regimes de precipitação e a tornar a chuva menos frequente e mais irregular em muitos pontos do planeta, estão a tornar escassa a água disponível nos habitats. E essa seca está a colocar em perigo a sobrevivência de várias espécies de traças no Reino Unido.

A conclusão é de um estudo feito pela organização Butterfly Conservation e por investigadores da Universidade de Northumbria e que revela que as traças estão a desaparecer de locais do Reino Unido que estão a tornar-se cada vez mais secos e mais quentes.

Cerca de 10% das espécies britânicas de traças de maiores dimensões concentram-se em habitats mais frescos, onde a água desempenha um papel central, especialmente nas regiões mais a norte do país. No entanto, também ocorrem mais a sul, em zonas mais elevadas e em zonas húmidas.

Traça Hypena obsitalis.
Foto: Peter Maton / Butterfly Conservation

No entanto, as populações destes insetos alados têm vindo a sofrer perdas ao longo das últimas décadas, e os especialistas suspeitam que as alterações climáticas são uma das principais causas.

Analisando dados recolhidos ao longo de 40 anos por voluntários da Butterfly Conservation, os investigadores verificaram que grande parte das traças mais bem adaptadas a ambientes mais frescos têm migrado para o noroeste do Reino Unido, em busca de climas menos quentes, mas que algumas espécies desapareceram por completo nas regiões mais a sul e no leste, com extinções locais a acontecerem nas partes mais quentes e secas.

Por outro lado, descobriram que as traças tendiam a permanecer nas zonas mais quentes desde que houvesse níveis elevados de precipitação que permitissem a sobrevivência das plantas de que as lagartas (um dos estádios de desenvolvimento das traças, tal como acontece com as borboletas) dependem para se alimentarem e crescerem.

Lagarta da traça da espécie Arctia caja.
Foto: Ryszard Szczygieł / Butterfly Conservation

“Espécies adaptadas ao frio, como as traças britânicas no nosso estudo, provavelmente serão as primeiras a enfrentar dificuldades à medida que o clima aquece”, assinala Lisbeth Hordley, da Butterfly Conservation.

A investigadora, e principal autora do estudo publicado esta semana na revista ‘Ecology Letters’, avisa que a intensificação prevista das alterações climáticas fará subir a temperatura em muitas áreas no Reino Unido, agravando o ritmo das extinções locais de traças. Assim, “adaptar a gestão da terra para aumentar a retenção de água é cada vez mais importante para proteger essas espécies”, argumenta.

Por isso, os autores defendem a importância de uma melhor gestão da água para permitir que os habitats das traças possam, mesmo sob temperaturas mais elevadas, continuar com elevados níveis de humidade. E isso poderia passar, dizem, pelo controlo do pastoreio e pelo aumento do número de árvores que ajudam a reter a água no solo, medidas que, além de beneficiarem as traças, seriam importantes para a sobrevivência de várias outras espécies selvagens, bem como para a fixação de carbono e para a proteção contra cheias.





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