Serpins, na Lousã, com evento onde a natureza é o próprio palco e se pensa a paisagem

A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria organiza, no solstício de verão, a 21 de junho, um evento em Serpins, conselho da Lousã, sem palcos ou sistemas de som, onde, além da música, haverá reflexão sobre a paisagem.
O “Palco Paisagem” vai espalhar-se por quatro locais de Serpins, onde a Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) está sediada: o “Quintal dos Javalis”, onde se vê a regeneração pós-incêndios, o “Banco do Júlio”, numa paisagem moldada por alguém que cuida dela, o “Lavadouro da Valada”, que remete para o despovoamento, e o “Mar de Acácias e Eucaliptos”, uma zona de vegetação densa que marca a paisagem da região.
Segundo Tiago Pereira, da MPAGDP, estes lugares serão os palcos da iniciativa, sem que na verdade haja palco ou sistema de som, e onde se poderá ouvir música e histórias ou participar em debates e reflexões sobre o território, a paisagem, a memória e a identidade.
“É uma experiência e uma espécie de modelo que sempre quisemos seguir, porque tem a ver com a lógica da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, que tem estado sempre preocupada com a paisagem e o território, assim como no sentido do dispositivo do palco”, disse à agência Lusa o fundador da MPAGDP.
Se a MPAGDP sempre gravou as pessoas ao ar livre e na natureza, houve a intenção de levar o público a poder experimentar aquilo que acontece nas gravações, com os próprios locais e as suas condições acústicas a moldarem as canções que se ouvem, disse.
“O lavadouro tem reverberação por todo o lado, no ‘Banco do Júlio’ há o som do rio, no ‘Quintal dos Javalis’, há mais rãs e passarinhos”, notou Tiago Pereira.
Ao longo do dia, três concertos de Fernando Mota, Sónia Sobral e Sílvio Rosado decorrem em três palcos distintos e em simultâneo, mas com repetição (15:30, 16:30 e 17:30), permitindo ao público ver o concerto do mesmo artista em três palcos distintos, ver os diferentes artistas no mesmo palco ou ver diferentes artistas em diferentes palcos.
Além destes concertos, haverá ainda duas sessões de contos com Gil Dionísio e Ana Sofia Paiva e três conversas sobre fogo e regeneração, jardineiros da paisagem e despovoamento e memória, com o geógrafo Álvaro Domingues e a arquiteta paisagista Aurora Carapinha.
O evento encerra com uma última conversa no palco “Mar de Acácias e Eucaliptos”, onde o Coro da Cura, coletivo local, também irá cantar.
Nesse momento final, lança-se a pergunta sobre o papel de cada um na paisagem e nas suas mudanças, afirmou Tiago Pereira.
“É sempre importante percebermos onde é que estamos. Através da paisagem, discutimos o território e também discutimos porque é que não temos mais espetáculos e mais encontros e formas de poder ver a música ao vivo sem ser esta lógica do dispositivo do palco que não está ao nível do público, que o põe sempre à frente”, disse.
O projeto é parte integrante da candidatura do MPAGDP à Direção-Geral das Artes, contando com o apoio da Câmara da Lousã (distrito de Coimbra) e da Junta de Freguesia de Serpins.
O evento conta com um mapa com toda a informação sobre a iniciativa, que tem um custo de dez euros.