Situação no território Yanomami no Brasil continua catastrófica
A situação no território Yanomami, localizado na floresta Amazónica, continua crítica, apesar das promessas do Governo brasileiro, segundo num relatório divulgado hoje pela organização não-governamental Survival International.
A organização, que luta globalmente pelos direitos dos indígenas, frisou que uma grave crise de saúde continua a afetar o povo Yanomami no norte da Amazónia brasileira, um ano depois de ter sido lançada uma grande operação do Governo brasileiro destinada a livrar a área dos mineradores ilegais.
“Apesar das promessas do Presidente Lula [da Silva] quando lançou a operação para remover os mineiros há um ano, a situação atual no território Yanomami é nada menos que catastrófica”, avaliou Fiona Watson, Diretora de Pesquisa e Defesa da Survival no relatório.
Dario Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, citado no mesmo documento da ONG, disse que, mesmo com o decreto de emergência assinado pelo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o Governo não conseguiu resolver a situação, pois os mineradores ainda estão nas terras Yanomami.
“E hoje a mineração é mais destrutiva do que nas décadas de 1980 e 1990. Hoje existe mineração por parte de fações criminosas, do crime organizado, do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do Comando Vermelho (Comando Vermelho) no território Yanomami. Esta é uma situação muito, muito grave e muito vulnerável para os Yanomami. As crianças continuam a morrer de malária e de pneumonia, as crianças continuam a morrer de parasitas e de tuberculose. Os Yanomami e suas terras ainda sofrem uma crise humanitária. E vamos continuar lutando e criticando os governos federal e estadual”, acrescentou Kopenawa.
Dados do serviço oficial de saúde na área Yanomami mostram que a incidência da malária aumentou 61% em 2023, com pelo menos 25.000 casos.
Além disso, os níveis de gripe também aumentaram dramaticamente, de 3.203 em 2022 para 20.524 em 2023, uma subida de 640%.
Segundo o Governo brasileiro, 308 indígenas morreram (entre janeiro e novembro de 2023), a maioria crianças menores de cinco anos.
O relatório da Survival International acrescentou que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu recentemente um veredito contundente sobre a gravidade da deterioração da situação no território Yanomami, destacando que nove postos de saúde que deveriam ter sido reabertos continuam fechados.
Além disso, a CIDH constatou que há pouca água potável, que muitos campos de mineração ilegal ainda estão ativos e que grupos de mineradores armados permanecem na Terra Indígena Yanomami, distribuindo armas à população indígena e buscando controlá-la.
Num incidente particularmente chocante capturado em vídeo, três jovens Yanomami foram amarrados e mantidos prisioneiros por mineiros.
A Survival Internacional alertou também para a demora na ação das Forças Armadas do Brasil que estão envolvidas na operação para retirar os mineradores ilegais. Muitos postos e serviços de saúde vitais que são tão desesperadamente necessários não estão a funcionar, salientou.
“A situação dos milhares de Yanomami que vivem no lado venezuelano da fronteira é terrível e quase não recebe atenção da ‘media’. Os mineiros estão a trabalhar em novas áreas na Venezuela com o apoio dos militares venezuelanos. Atualmente há uma epidemia de malária e muitos Yanomami morreram”, apontou.
“A situação dos Yanomami isolados é especialmente preocupante – sabemos que os mineiros ainda operam a poucos quilómetros das suas comunidades”, acrescentou.
Segundo a organização não-governamental, se essa situação continuar, mais centenas de Yanomami morrerão e as suas terras tornar-se-ão inabitáveis.
“É absolutamente vital que as novas medidas anunciadas pelo Presidente Lula sejam postas em prática imediatamente, como parte de uma operação abrangente e sustentada para remover permanentemente os mineiros e fornecer os cuidados de saúde intensivos que são tão desesperadamente necessários”, referiu.
“Também é vital que esta atividade seja mantida – caso contrário, esta terrível história será repetida indefinidamente até que os Yanomami sejam dizimados. Já é tempo de todos aqueles que lucram com a mineração ilegal serem levados à justiça pelos seus crimes”, concluiu.