Sofia Santos: “Irão surgir bancos mais pequenos e com serviços específicos”



Amanhã, Sofia Santos apresenta oficialmente o seu novo livro: “A Banca em Portugal e a Economia Verde”. Em entrevista exclusiva ao Green Savers, a autora identifica os países e bancos mais avançados ao nível da economia verde e para onde irá evoluir a banca sustentável nos próximos anos.

Charles Buchanan, que escreveu a introdução do livro, explica que “talvez comecemos a assistir a uma mudança significativa nas atitudes e práticas do sector bancário e a uma maior motivação dos seus líderes para percorrer a avenida da sustentabilidade”. Concorda?

Sim, concordo. Na realidade, a nível internacional conseguimos ver um conjunto de bancos que já têm desenvolvidas análises de risco ambiental e social para alguns sectores e algumas linhas de financiamento para países em desenvolvimento, que só ocorrem se os intermediários financeiros tiverem uma política de risco ambiental e social.

Esta crise financeira também veio aumentar a motivação dos líderes financeiros internacionais para estarem mais próximos do tema, o que é visível com o crescimento em 98% do número de signatários dos Princípios do Investimento Responsável entre 2009 e 2012, e pelo número também cada vez maior de bancos que assinam os Princípios do Equador.

Que países estão mais avançados na promoção da economia verde no sector bancário?

Austrália, Reino Unido, Holanda, Brasil.

E quais os bancos pioneiros?

Dos bancos tradicionais, podemos referir Barclays, HSBC, Wells Fargo, Banco Santander Brasil e o Citibank. Ao nível da banca ética, o pioneiro Triodos Bank.

E em Portugal, que passos têm sido feitos para levar as instituições de crédito a promoverem o desenvolvimento sustentável?

As instituições financeiras têm desenvolvido as suas acções, umas mais viradas para o âmbito social outras para a componente ambiental, sendo que a maioria dos bancos publica os seus relatórios de sustentabilidade anuais. No entanto, e ao nível das análises de risco que integrem os riscos ambientais e sociais, ainda existe um longo caminho a percorrer.

De qualquer forma a CGD e o BES, sendo membros da UNEP FI, desenvolveram no passado um projecto que pretendeu precisamente promover a formação dos analistas de risco sobre estes temas, através de uma série de workshops que ocorreram entre 2009 e 2010, dentro do programa “Banca e Ambiente”.

No entanto, ainda existe um longo caminho a percorrer até que os riscos ambientais estejam incluídos verdadeiramente na gestão de risco. E, só aí, poderemos dizer que as instituições financeiras estão, de facto, a promover o desenvolvimento sustentável.

Dos exemplos práticos que analisou, quais os que mais a marcaram?

O trabalho extenso que o Barclays realizou na identificação específica de riscos ambientais em cerca de 10 sectores de actividade, tendo uma equipa de análise de risco ambiental a funcionar desde o início dos anos 90. E os projectos ambientais, sociais e culturais que o banco Triodos financia, e cuja decisão de financiamento assenta numa política de crédito inovadora e exigente.

Em Portugal, como tem evoluído a legislação no que toca à responsabilidade sustentável dos bancos?

Em Portugal não existe nenhuma legislação que obrigue os bancos a terem qualquer tipo de acção relativamente aos aspectos ambientais e sociais no contexto do desenvolvimento sustentável. Em países como o Brasil, México entre outros, tem-se assistido a algumas movimentações por parte das Associações de Bancos para o desenvolvimento de acções consertadas do sector relativamente à adopção de regras comuns para certos projectos.

Apesar de ainda não existir legislação, tudo indica que tal irá mudar. Na realidade, a própria Comissão Europeia lançou em Junho de 2012 uma proposta de regulamentação sobre a informação que os bancos terão de passar a divulgar nos seus produtos financeiros, na qual está incluída a obrigação de dar a conhecer como é que os bancos e os produtos têm em consideração os aspectos ambientais, sociais e éticos.

E como tem crescido a responsabilidade ambiental voluntária dos bancos?

A nível voluntário temos os Princípios do Equador, os Princípios para o Investimento Sustentável e os Princípios da UNEP FI. O número de bancos a aderir a estes princípios tem vindo a aumentar nos últimos anos.

Portugal é várias vezes elogiado pelo seu sector bancário. Faz sentido estender o elogio às práticas sustentáveis desenvolvidas pelas instituições financeiras portuguesas?

Existem práticas sustentáveis desenvolvidas pelos bancos reconhecidas: a CGD foi reconhecida como o melhor grupo Financeiro Mais Sustentável de Portugal em 2011, pela revista The New Economy, e o BES está cotado nos índices FTSE4GOOD e DJSI.

No entanto, os bancos portugueses ainda não têm desenvolvido matrizes de risco ambiental e social ou políticas de risco de crédito como outros de referência a nível internacional. Na realidade, as áreas de risco dos bancos portugueses têm uma falta de conhecimento significativo sobre os futuros riscos ambientais que irão afectar as empresas, e como tal não estão a incluir estes factores na análise do plano de negócio das empresas a quem emprestam dinheiro.

Qual o produto financeiro ambiental, dos que analisou, que mais a surpreendeu?

Existe uma publicação da UNEP FI que identifica vários produtos financeiros verdes que existem de momento. Os produtos financeiros que, na minha opinião, mais relevância têm, são aqueles que incentivam o consumo sustentável, como a existência de empréstimos específicos para frota mais amiga do ambiente e construção sustentável, por exemplo.

Como evoluirá a aposta dos bancos na economia verde na próxima década?

Acredito que existirá uma evolução muito grande. Até 2020 as câmaras municipais, os governos e as empresas terão de ter conseguido atribuir um valor económico aos activos e passivos ambientais. Este é o compromisso foi assumido em 2010 na COP para a Biodiversidade, por mais de 100 países e onde Portugal está incluído. Com este compromisso irá existir uma necessidade dos bancos terem, finalmente, de começar a olhar para os riscos e oportunidade ambientais como uma área relevante para o seu negócio.

Diz que o mito da banca universal poderá estar perto do fim. O que nos reserva o futuro?

Penso que no futuro iremos ver o surgimento de bancos mais pequenos, com serviços específicos que lhes permitam ter tempo para conhecer o cliente e acompanhar o crescimento do seu negócio, à semelhança dos bancos éticos. Até porque, tal como revela um estudo publicado em 2012, os bancos éticos têm apresentado resultados financeiros mais sólidos que os tradicionais, no período de 2009 a 2012.

Sofia Santos é actualmente sustainability advisor da GCI, consultora de comunicação e Public Engagement portuguesa.





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