Startup oferece triagem de ADN e cria bebés virtuais para os clientes



Dois dias depois de Anne Morriss levar para casa o seu recém-nascido, recebeu uma chamada arrepiante. Do outro lado da linha, um estranho perguntou-lhe se tinha a certeza que o filho estava vivo. Morriss correu para o quarto da criança para perceber, com alívio, que o bebé respirava, mas a chamada que recebeu de um médico, indicando-lhe que uma triagem de rotina tinha revelado que o seu bebé tinha nascido com uma mutação genética rara e frequentemente fatal.

Esta condição, a Deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia média (MCADD, na sigla inglesa), é causada por mutações num gene envolvido no metabolismo da gordura. Alguns bebés que nascem com uma versão severa da mutação não vivem mais de 15 dias, uma vez que o seu corpo é incapaz de obter energia a partir da gordura por métodos normais, quando as reservas de açúcar se esgotam.

“O primeiro ano foi um misto de ansiedade e noites sem dormir. Preocupava-me com o facto de ele poder não acordar na manhã seguinte. Preocupava-me quando ficava doente e não queria comer”, afirma Morriss, citada pelo Guardian. Porém, uma vez que a mutação genética de Alec foi detectada precocemente, a criança tem uma grande probabilidade de viver uma vida longa e saudável.

Isto ocorreu há seis anos. Porém, esses dias foram o início de algo maior para Anne Morriss. Quando pesquisou sobre a mutação do filho descobriu que Alec tinha herdado a condição através de uma coincidência. A MCADD é uma condição muito rara. Porém, tanto Morriss como o dador do esperma que utilizou eram portadores da mutação genética. Mutações como esta podem ser raras, mas existem muitas e quando os genes que as transportam são combinados podem afectar milhões de pessoas.

Contudo, Morriss está a trabalhar numa forma de minimizar esta probabilidade de se ter um filho com uma doença grave ou mutação genética, para que os outros pais não tenham de passar pela agonia que passou.

Juntamente com o parceiro de negócio, Lee Silver, um cientista da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Morriss vai lançar uma empresa chamada Genepeeks. Esta startup vai utilizar o ADN dos doadores de esperma e o ADN das futuras mães para criar “bebés virtuais”. Estes descendentes virtuais podem ser triados para centenas de doenças genéticas, permitindo descartar os doadores cuja combinação de ADN com o da futura grávida represente um risco para futura criança. O objectivo final da Genepeeks é que a tecnologia possa estar disponível para qualquer casal que queira ter filhos.

Esta tecnologia – à qual chamaram Matchright – pode vir a alterar as regras do jogo da tecnologia médica de reprodução, permitindo a futuros pais obterem análises detalhadas de possíveis doenças dos filhos sem terem de lidar com uma gravidez real.

Porém, ela vai permitir um vislumbre sem precedentes do que a os filhos dos potenciais clientes podem ser e pode ser utilizada para detectar outras qualidades ou traços além das doenças – como a dor dos olhos e dos cabelos, altura, propensão para a obesidade ou até mesmo a beleza. Uma vez que esta nova tecnologia extrapola as regulações que normalmente são aplicadas nos testes com embriões, o método levanta importantes questões éticas sobre a privacidade, escolha de parceiro ou doador e o papel que a computação pode desempenhar na reprodução.

Na verdade, ela continua a desbravar caminhos que põe em causa a surpresa e até inocência da natureza. Será isso benéfico?

O que são bebés digitais?

De acordo com Morriss, “a tecnologia simula a genética da reprodução e cria-se literalmente esperma e óvulos digitais que dão origem a bebés digitais”. Posteriormente, são triadas as possíveis doenças que estas crianças podem vir a desenvolver.

Posteriormente, a empresa utiliza esta informação para oferecer aos clientes o seu próprio catálogo de doadores de esperma – “o cliente contrata-nos e nós fazemos vários bebés digitais com cada doador da nossa rede e depois filtramos todas as conjugações com elevado risco de doenças”, explica Morris.

O Matchright tria mais de 600 mutações genéticas recessivas, quando comparado com as tecnologias utilizadas para testar o esperma dos doadores. De acordo com Morriss, esta será a primeira vez na história da humanidade que estas doenças podem começar a ser prevenidas. Juntas, as doenças triadas por esta nova tecnologia representam cerca de 20% da mortalidade infantil e 18% das internações pediátricas.

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Foto:  iandeth / Creative Commons





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