Sustentabilidade e Emitentes: os principais desafios



Decorreu esta manhã o “II Encontro de Finanças Sustentáveis: uma perspetiva ibérica”, organizado pelo banco espanhol ABANCA, no qual vários especialistas debateram a incorporação de critérios de sustentabilidade, ética e compromisso social (ESG) nos setores financeiro e empresarial, em Portugal e Espanha.

No painel “Sustentabilidade e Emitentes”, moderado pela Especialista em Finanças Sustentáveis Sofia Santos, Ana Barros, Administradora não-executiva do ABANCA, Montserrat Martínez Parera, Vice-Presidente da Comissão Nacional do Mercado de Valores espanhola (CNMV) e Manuel Monteiro, Diretor Geral da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), debateram o papel dos mercados e do setor financeiro perante a integração de critérios de sustentabilidade, ética e compromisso social.

Ana Barros começa por dizer que os “desafios de sustentabilidade que temos são enormes e urgentes. (…) É preciso mobilizar todos os meios de financiamento que existem à disposição para financiar esta transição”, não só para um mundo mais sustentável, mas também para uma economia mais sustentável. Neste campo, a Administradora do ABANCA considera que os mercados financeiros são um complemento e um “potencial enorme” para financiar a transição rumo á sustentabilidade. Como indica, na Europa, 70% do financiamento ser feito mercado bancário.

Os mercados financeiros são vantajosos em diversos pontos: permitem maiores financiamentos, com prazos mais longos, condições mais flexíveis e a custos mais atrativos. Outra das razões apontadas por Ana Barros é a inovação, dado que permitem desenvolver instrumentos que permitam ao maior mundo de entidades aceder a mercado, sendo eles: Green Securitizations, Green Cover Bonds, Green Project Bonds, bem como o mercado de derivados para a proteção de risco climático. “Há todo um conjunto de instrumentos inovadores que têm como principal vantagem aumentar o número de potencias emitentes”, conclui.

Em Portugal, segundo Ana Barros, a transição para as obrigações sustentáveis é notável. Como exemplifica, as primeiras obrigações verdes foram emitidas em 2006, tendo ganho maior dimensão em 2017; por outro lado, em 2018 foram emitidas as primeiras obrigações azuis. “Em 2020 foram emitidas 600 milhões de dólares em obrigações sustentáveis, praticamente o dobro do que foi emitido em 2019”, aponta. Prevê-se que até ao final de 2021 se possa chegar a 1 bilião de dólares de emissões destas obrigações.

Esta tendência é vista em empresas como a SONAE, a NOS, Altri, a Corticeira Amorim, o Grupo Pestana e a EDP, o principal emitente em Portugal. “O mercado está a crescer muito e existe oportunidade em Portugal, mas é preciso criar as condições para se emitir e para os pequenos emitentes poderem aceder”, refere a especialista.

No campo da sustentabilidade financeira, o principal desafio apontado pelos oradores no painel é o facto da informação precisar de ser fiável.

Manuel Monteiro afirma que taxonomia é um dos primeiros passos na direção da qualidade da informação sobre sustentabilidade, a qual sublinha ser “imprescindível” para os investidores globais tomarem decisões. Relembra também a importância do novo normativo europeu, no qual se propõe uma regulação mínima sobre os ratings relativos à sustentabilidade, que se prevê que esteja em vigor em 2024. Neste caso, como explica, a CMVM considera que sendo esta uma regulação europeia, deve ser guiada pela mesma, sendo o seu papel enquanto supervisores apenas para acompanhar e apoiar.

Montserrat Martínez Parera, por sua vez, aponta que “a transparência é a forma que temos precisamente de facilitar que os investidores possam incorporar os riscos, alguns já presentes e outros no futuro, e tomem as decisões mais adequadas”, mas que esta transição deve ser feita com tempo. Realça assim três riscos: a necessidade de simplificar a informação para que os investidores compreendam a situação em que se encontram, de forma a formar o seu caminho para a transição; haver uma verificação da informação financeira; ter consciência de que a dificuldade que é partilhar essa informação quando muitas vezes não a têm, especialmente no caso das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) que nem sempre têm recursos para isso. Para a Vice-Presidente da CNMV, a sustentabilidade “é um desafio global que nos afeta a todos”.

No fim da sessão, Diretor Geral da CMVM ressalva ainda que “os ativos sustentáveis começaram a ter uma correlação muito positiva com o desempenho financeiro”, não existindo por isso um conflito de interesses com o pressuposto do dever fiduciário. “O melhor desempenho financeiro (…) começar a estar muito ligado ao melhor desempenho de matéria de sustentabilidade”, revela.

 

 





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