Sustentabilidade e Instituições Financeiras: quais são os desafios?



Esta manhã, no “II Encontro de Finanças Sustentáveis: uma perspetiva ibérica”, organizado pelo banco espanhol ABANCA, foi debatida a incorporação de critérios de sustentabilidade, ética e compromisso social (ESG) nos setores financeiro e empresarial, em Portugal e Espanha, e quais as perspetivas futuras.

O painel “Sustentabilidade e Instituições Financeiras” teve como oradores Margarita Delgado, Vice-Governadora do Banco de Espanha, Ana Cristina Leal, Diretora do Departamento de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal e Francisco Botas, CEO do ABANCA, tendo sido moderado por Catarina Cardoso, Diretora Geral da Associação Portuguesa de Bancos.

Margarita Delgado, Vice-Governadora do Banco de Espanha, começa por afirmar que os países do sul da Europa estão mais expostos ao risco físico que é o impacto financeiro das alterações climáticas. Agarrando o tema dos testes de stress climáticos individuais, que serão realizados em 2022, a própria considera que serão um grande desafio para os supervisores e para os bancos, mas que serão um marco importante. Através dos mesmos, pretende-se que os bancos sejam “capazes de avaliar esses riscos sob um critério de proporcionalidade de tal forma que se identifiquem grandes vulnerabilidades e as melhores praticas para analisar e gerir esses riscos”.

“Estamos a ir um pouco rápido mas há uma urgência, é necessário ordenar e estruturar todas as atuações, e penso que os bancos são responsáveis até certo ponto porque têm uma posição privilegiada como financiadores das atividades produtivas de todos os países, ou países como Portugal e Espanha, onde o tecido produtivo baseia-se em PME’s [Pequenas e Médias Empresas]. Mas não são os únicos responsáveis nesta matéria”, aponta.

Neste ponto, Catarina Cardoso intervém sublinhando que de facto não se pôde impor todo o ónus sobre os bancos, visto que há lacunas muito grandes na informação, que é fundamental neste aspeto. Não se pode responsabilizar os bancos quando estes estão dependentes da atuação e capacidade de terceiros, refere a moderadora.

Ana Cristina Leal, Diretora do Departamento de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal, afirma “Para nós é fundamental promover a resiliência do sistema financeiro neste processo de transição para uma economia mais sustentável”. Nesse sentido, explica que estão a começar rever e atualizar os modelos e as metodologias de análise, no intuito de perceberem os desafios a enfrentar perante os riscos climáticos, bem como de salvaguardar a estabilidade financeira.

A profissional do Banco de Portugal considera que estes riscos têm características especiais porque têm um impacto abrangente; existe o fator da incerteza e o dos horizontes temporais serem “extremamente longos”, exigindo uma análise económica de 30 e 50 anos. Outros pontos são o facto dos efeitos não serem lineares, “poderem dar saltos negativos” e de existir uma dependência da ação a curto prazo ‘do hoje’. “Trata-se de um fenómeno económico extremamente complexo”, sublinha.

A moderadora Catarina Cardoso reforça, por sua vez, que existe também a necessidade de não cortar o financiamento e de ajudar na transição das atividades mesmo quando deixam de ser produtivas – como foi dado o exemplo de refinaria de Matosinhos. Em concordância, Ana Cristina Leal refere que “é necessário antecipar a questão”, mas que as empresas poluidoras podem sempre transformar-se, e que o banco pode ajudar nesta transição.

Para Francisco Botas, CEO da ABANCA, é necessário olhar para os dados relativamente aos riscos mediante o setor da economia, “porque cada setor tem uma capacidade de transformação diferente”. O profissional revela que o Plano 21-24 que a ABANCA está a desenvolver tem cinco vetores, onde o único horizontal e que engloba todos é a sustentabilidade. São trabalhados neste plano três princípios, nomeadamente, mitigar as alterações climáticas, apoiar a economia sustentável e colaborar com os clientes na sua transição para a sustentabilidade.

Margarita Delgado, Vice-Governadora do Banco de Espanha, sugere que é necessário haver modelos globais homogéneos, dado que se trata de um problema global, e que posteriormente essa existência permitirá a redução da assimetria de informação entre todos os decisores, investidores e bancos. Sublinha ainda as dificuldades existentes: a falta de critérios, de parâmetros, de desenvolvimento da taxonomia, de dados profundos e exaustivos sobre todas a operações já realizadas. “É preciso que ambos tenhamos um quadro comum e que seja a nível internacional”, reforça, explicando que estas dificuldades afetam as PMEs e as famílias.

Em suma, a Vice-Governadora do Banco de Espanha, afirma “Devemos estabelecer as definições comuns, devemos ser capazes – os bancos centrais e as autoridades – de fazer uma recolha da informação e construir essas bases de dados, e por último (…) devemos incidir na qualidade da informação divulgada para que exista transparência, e que todos os atores tenham suficiente informação para a tomada de decisões”.

Ana Cristina Leal revela também que ainda que exista uma ausência de informação e se esteja numa fase inicial das metodologias, os testes de stress climático têm como objetivo sensibilizar as pessoas para a transição sustentável e preparar os bancos para estes riscos, mostrando que ao se adaptarem à nova realidade com prontidão, a penalização futura será muito menor.





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