T-Rex, afinal, pode não ter andado com os dentes à mostra como nos filmes de Hollywood



Quando pensamos nos dinossauros, especialmente no infame Tyrannosaurus rex, é fácil deixar a imaginação vaguear para imagens de grandes répteis de aspeto feroz, grandes e afiadas garras e com bocas cheias de dentes em permanente exposição. No entanto, esse ‘sorrido mortal’ pode não ser mais do que fantasia.

De acordo com investigadores dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, do Canadá e da China, os dinossauros carnívoros bípedes, como o T-rex, do grupo dos terópodes, podem ter tido lábios carnudos a cobrir os dentes, afastando-os, pelo menos ao nível da face, do aspeto dos crocodilos que hoje conhecemos e aproximando-os dos lagartos do género Varanus, como o dragão-de-komodo. Assim, é martelado mais um ‘prego no caixão’ da precisão científica de filmes como o Parque Jurássico.

Comparação entre a aparência e reconstruções de animais que hoje vivem e de dois extintos: Varano da espécie V. salvadorii (A); iguana-marinha, da espécie Amblyrhynchus cristatus (B); aligátor-americano, da espécie A. mississippiensis (C); espécie pré-histórica de crocodiliano Hesperosuchus agilis (D); e o extinto T. rex (E).
Foto: Artigo

A ideia de dinossauros com lábios a cobrir os dentes foi lançada num artigo publicado na revista ‘Science’, resultado de um trabalho que abrangeu a comparação da estrutura dos dentes fossilizados de espécies de terópodes, como o Daspletosaurus, parente do T-rex, com a dos dentes de animais que hoje vivem, como crocodilos e varanos.

Esta imagem mostra dois possíveis aspetos do T-rex, uma em que o animal teria os dentes sempre expostos (B) e outra em que teria lábios para protegê-los do desgaste (D).
Foto: Artigo

Essa análise permitiu perceber que os dentes desses dinossauros assemelham-se mais aos dentes dos atuais varanos, que têm lábios que lhes cobrem os dentes, do que aos apresentados pelos crocodilos dos dias de hoje, com esmalte mais denso, que, não tendo lábios, exibem a sua dentição aguçada.

Depois de terem percebido que os dentes fossilizados de Daspeltosaurus apresentavam na sua face frontal menos desgaste do que os dentes de crocodilos modernos, os cientistas defendem que é possível que esses grandes répteis antigos terão, de facto, tido lábios.

No entanto, não terão sido lábios musculosos, que lhes permitissem, tal como acontece com diversos mamíferos, contraí-los ou movê-los para realizar, por exemplo, expressões de ameaça, como acontece quando os canídeos rosnam e mostram os dentes em sinal de ameaça ou quando os primatas, como os humanos, esboçam sorrisos.

Ainda assim, tudo são ainda conjeturas, pois identificar a presença de tecidos moles nos registos fósseis não é tarefa fácil. Por isso, é possível que, mesmo tendo lábios, os dinossauros carnívoros bípedes passeassem pelas florestas antigas com os dentes de fora por serem demasiado grandes para os seus lábios escamosos.

Mas Thomas Cullen, da Auburn University e um dos autores do artigo, considera que essa é uma hipótese remota, uma vez que, proporcionalmente ao crânio, os dentes dos T-rex e os dos varanos não são assim tão diferentes.

Outro dos autores, Mark Witton, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, afirma que este estudo vem “revolucionar” a forma como podemos imaginar o aspeto que os dinossauros terão tido, o que poderá significar que “muitos dos nossos dinossauros favoritos”, no final de contas, são bastante diferentes do que imaginamos.





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