Tal como nós, as cascavéis stressadas aguentam melhor com um amigo



As cascavéis que passam por situações de stress com um companheiro “podem ser capazes de reduzir a alteração do ritmo cardíaco uma da outra, tal como os humanos”, de acordo com um novo estudo.

Segundo a mesma fonte, quando os níveis de stress de uma criatura diminuem devido à presença de um amigo, é designado por “amortecimento social”, um efeito que “está bem estudado em mamíferos e aves”, lê-se em comunicado divulgado no “Scimex”.

Os investigadores norte-americanos analisaram o efeito de “amortecimento social” em 25 cascavéis capturadas na natureza, equipadas com monitores cardíacos, quando colocadas num balde escuro com e sem um companheiro, e descobriram que a presença de uma segunda serpente “reduziu a alteração dos batimentos cardíacos dos animais depois de sofrerem uma perturbação, ajudando-os a manter a calma”. Esta é a “primeira prova de proteção social em répteis”, afirmam os investigadores.

Segundo o estudo, quando os animais sofrem de stress agudo ou crónico, “produzem mais hormonas que provocam alterações no sistema nervoso, na resposta imunitária e no comportamento”. Alguns animais, “se estiverem na presença de um co-específico, podem modular a sua resposta para amortecer o stress”. Este fenómeno é conhecido como “amortecimento social”.

O comunicado explica que existem alguns estudos que sugerem que as serpentes “podem apresentar um comportamento social complexo”. No entanto, a proteção social nos répteis, “não foi estudada extensivamente”. Agora, investigadores dos EUA examinaram se as cascavéis que habitam o sul da Califórnia utilizam o “amortecimento social” para aliviar o stress agudo.

“Mostrámos que quando duas cobras estavam juntas e passavam por uma situação de stress, conseguiam amortecer a resposta ao stress uma da outra, à semelhança do que acontece com os seres humanos quando passam por um evento stressante em conjunto”, afirmou Chelsea Martin, estudante de doutoramento na Universidade de Loma Linda e primeira autora do estudo da Frontiers in Ethology. “Esta atenuação da resposta ao stress não foi relatada anteriormente em nenhuma espécie de réptil”, acrescentou.

Quando expostas ao stress, “a presença de uma serpente companheira reduziu significativamente a alteração do ritmo cardíaco das serpentes”. Como os investigadores trabalharam com cascavéis capturadas em estado selvagem, “puderam demonstrar que o amortecimento social existe provavelmente na natureza e pode persistir em cativeiro”, sublinha o comunicado.

“As nossas cobras de teste vieram de populações que hibernam individualmente e em comunidade. Não encontrámos diferenças nas populações de cobras que hibernaram ou não em grupos”, explicou Martin. “Também não observámos qualquer diferença na proteção social entre os sexos.”

As cascavéis de Montane hibernam em comunidade, “o que poderia ter sido um indicador de redes sociais mais fortes do que nas cascavéis das planícies, que normalmente hibernam sozinhas”. Sabe-se também que as cascavéis fêmeas se agregam durante a gravidez e permanecem com as crias recém-nascidas. O teste dessas variáveis ajudou os pesquisadores a estabelecer que a “propensão ao agrupamento era igualmente pronunciada em ambas as populações, bem como em cobras fêmeas e machos”.

Estudo investigou 25 cascavéis em estado selvagem em 3 cenários

Para o seu estudo, os investigadores avaliaram o amortecimento social em 25 cascavéis do Pacífico Sul capturadas em estado selvagem em três cenários: quando as serpentes estavam sozinhas, na presença de uma corda que servia de objeto de controlo inanimado e enquanto as serpentes estavam na presença de um companheiro do mesmo sexo.

A medição do ritmo cardíaco das cascavéis “deve ser um indicador fiável dos níveis de stress agudo e da proteção social”. Para obter dados, os investigadores equiparam as cobras com elétrodos junto ao coração e ligaram os sensores a um monitor de frequência cardíaca. Em seguida, colocaram as cobras num balde – um ambiente de teste escuro e fechado.

Após um período de adaptação de 20 minutos, as serpentes foram perturbadas artificialmente. Em seguida, Martin et al. mediram o aumento do ritmo cardíaco das cobras em relação à linha de base, “o tempo necessário para que o ritmo cardíaco voltasse ao normal e o tempo que passaram a chocalhar”, explica o comunicado.

“Os nossos resultados fornecem informações sobre os padrões de comportamento social das cobras”, disse Martin. “Mas também podem melhorar a imagem das cascavéis. Aos olhos do público, elas são frequentemente difamadas. As nossas descobertas podem ajudar a mudar isso”, acrescentou.

Os cientistas também apontaram algumas limitações com que trabalharam e disseram que esperam testar no futuro se a familiaridade entre duas cobras tem impacto na sua resposta de proteção social.

 





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