Térmitas podem ter mais influência do que pensamos no futuro do clima
As térmitas são vistas por muitos de nós, humanos, como pragas que destroem os móveis de madeira que temos nas nossas casas e que estaríamos até bem sem elas. No entanto, estes pequenos invertebrados são agentes fundamentais da ‘reciclagem’ na natureza, alimentando-se da madeira morta e acelerando o seu processo de decomposição que é essencial para a vida nos solos.
Mas estes pequenos insetos sociais, com mais de três mil espécies conhecidas e que caminham pela Terra há milhões de anos, podem vir a ser um elemento de peso nas alterações futuras do clima e até contribuir para o aquecimento do planeta.
De acordo com um estudo realizado por quase uma centena de cientistas de vários países, à medida que a Terra se torna mais quente a atividade das térmitas aumentará, na ordem das 6,8 vezes por cada 10 graus Celsius de aquecimento.
Apesar de prestarem um serviço fundamental aos ecossistemas, a decomposição da madeira morta liberta, de volta para a atmosfera, dióxido de carbono que foi ficando armazenado nas fibras dos troncos e dos ramos das árvores ao longo das suas vidas.
As térmitas podem ser encontradas em praticamente todas as regiões do planeta, mas existe uma concentração significativa de espécies desse inseto nos trópicos e nas zonas subtropicais, com mais de um terço das espécies conhecidas a habitar as paisagens africanas, australianas, sul-americanas e asiáticas.
No entanto, à medida que essas regiões se forem tornando mais quentes, as térmitas, que são “muito sensíveis à temperatura”, deverão migrar em direção aos polos, para zonas temperadas que se tornam agora mais quentes e mais atrativas para os pequenos insetos. E consigo levarão a sua capacidade de alterar profundamente os ecossistemas, colocando em risco as espécies que residem nessas áreas da Terra e fazendo aumentar o seu contributo para a subida da temperatura global, num efeito de retroalimentação positiva, ou seja, impulsionando um ciclo vicioso de aquecimento.
“Com o aumento das temperaturas, o impacto das térmitas no planeta pode ser enorme”, diz Amy Zanne, da Universidade de Miami e primeira autora do artigo divulgado na ‘Science’.
A isso, Paul Eggleton, investigador do Museu de História Natural de Londres e outro dos autores, explica que “as térmicas não se dão bem com o frio e com ambientes secos, mas dar-se-ão melhor à medida que o planeta se torna mais quente”.
Assim, com a disseminação das térmitas “aumentará consideravelmente” também a quantidade de madeira que será decomposta, e isso terá implicações significativas” para o clima da Terra, acrescenta.
O trabalho dos cientistas cobriu seis continentes e centenas de locais para perceber de que forma as alterações climáticas estão a afetar as térmitas e a sua atividade sobre os ecossistemas.
Ao contrário de outros decompositores, como os micróbios, as térmitas não precisam de grandes quantidades de água para consumir a madeira, tornando-as idealmente adaptadas às condições de aridez e seca que caracterizarão diversas regiões do mundo devido à subida da temperatura global.
“Os micróbios são globalmente importantes no que toca à decomposição de madeira, mas o papel das térmitas neste processo tem sido amplamente ignorado”, afirma Zanne, alertando que “isso significa que não estamos a ter em conta o efeito massivo que estes insetos podem ter no futuro ciclo de carbono e nas suas interações com as alterações climáticas”.