Território nauseabundo: enganar os predadores com iscos que os fazem vomitar



As raposas, cães, gatos, ratos e outros predadores introduzidos matam milhões de animais nativos todos os anos, mas e se eles fossem condicionados a associar essas presas a alimentos que os deixam doentes?

Uma equipa de investigadores internacionais demonstrou que é possível fazer isso mesmo, enterrando iscos com um químico que induz náuseas e vómitos quando consumido pelos predadores.

Numa experiência inédita a nível mundial, realizada no sudeste da Austrália, onde as raposas vermelhas introduzidas são responsáveis por inúmeras mortes de animais selvagens, os cientistas da Universidade Nacional Australiana (ANU) e da Universidade da Austrália do Sul colocaram iscos de frango desossado frito, alguns dos quais contendo um químico encapsulado para esconder o sabor e o cheiro do produto químico que provoca náuseas e enjoos nos animais.

Durante três períodos sequenciais, foram colocados iscos não tratados, seguidos de iscos com químico e novamente iscos não tratados. No último período, a quantidade de iscos recolhidos diminuiu 30%, o que indica que as raposas consumiram os iscos com o químico, adoeceram e mostraram-se relutantes em voltar para os repetir, apesar da ausência posterior do mesmo.

Os investigadores afirmam que esta evidência mostra que “é possível condicionar as raposas a evitar fontes de alimento com base no seu odor único e, em última análise, esta estratégia pode ser aplicável à proteção da vida selvagem vulnerável que vive nesse habitat”.

A tática não letal para manter os predadores afastados pode ser potencialmente mais eficaz do que os tiros, as armadilhas e os iscos envenenados em determinados contextos, segundo o estudante de doutoramento da ANU Tim Andrewartha.

“Com base nas nossas descobertas, este potencial é algo que esperamos explorar no futuro”, afirma Andrewartha.

Predadores responsáveis por 60% de todas as extinções de aves, mamíferos e répteis 

O Professor Associado Anton Blencowe, investigador da UniSA, afirma que os predadores invasores são responsáveis por quase 60% de todas as extinções de aves, mamíferos e répteis a nível mundial, pelo que é “fundamental” encontrar formas de mitigar os seus impactos na vida selvagem nativa.

“Os métodos de controlo letal existentes – tiro, armadilhas e envenenamento – podem ser contraproducentes em algumas situações, uma vez que os predadores são capazes de adaptar o seu comportamento e tornar-se mais difíceis de controlar”, afirma.

A tática utilizada nesta experiência, conhecida como aversão ao sabor condicionada (AAC), mostra-se promissora como ferramenta para reduzir a predação de animais selvagens vulneráveis, descrevem os investigadores num artigo publicado este mês na revista Conservation Science and Practice.

Uma série de agentes indutores de náuseas encapsulados pode ser injetada em fontes de alimento, como ovos ou carcaças de animais, para que o predador associe os sintomas ao odor do alimento e não ao produto químico.

O microencapsulamento, em que as partículas do agente são reduzidas ao mínimo, também pode ser utilizado para ocultar texturas e evitar que a cápsula seja acidentalmente aberta durante o consumo.

Os investigadores afirmam que é necessária mais investigação para determinar a melhor substância química e a dose utilizada, se as presas vivas em vez de carcaças são mais eficazes para condicionar a aversão na raposa vermelha e o tempo entre o consumo e o início dos sintomas.





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