Teste detecta presença de pesticidas em gelados Ben & Jerry’s
A Ben & Jerry’s é famosa pelos seus gelados, mas também por promover práticas de negócios que respeitam a Terra e o Ambiente. Desde há vários anos que trabalham para reduzir e compensar a sua pegada ambiental, realizando campanhas para combater o aquecimento global, realizando um projecto piloto de separação de estrume para reduzir a quantidade de metano que entra na atmosfera, seguindo uma política de empacotamento responsável e até colaborando em processos de reflorestação.
Acontece que, nos Estados Unidos, uma descoberta recente está a ter efeitos desastrosos para a reputação da empresa. De acordo com um artigo publicado no “The New York Times“, a Organic Consumers Association (Associação de Consumidores Orgânicos) anunciou no final de Julho que encontrou vestígios de glifosato em 10 de 11 amostras de gelados Ben & Jerry’s, embora em níveis muito inferiores ao limite máximo estabelecido pela Environmental Protection Agency (EPA).
De acordo com John Fagan, chefe executivo da Health Research Institute Laboratories, que realizou os testes para a OCA, um adulto teria de comer 290.000 porções de gelado para atingir o limite estabelecido pela EPA, o órgão do governo encarregado de estabelecer um limite máximo na quantidade de glifosato permitido nos alimentos. Ou seja, os níveis de pesticida encontrados nas amostras de Ben & Jerry’s seriam totalmente irrelevantes.
Citado pelo mesmo jornal, Rob Michalak, da Ben & Jerry’s, disse que a empresa está a trabalhar para garantir que todos os ingredientes da sua cadeia de abastecimento provenham de fontes que não incluam organismos geneticamente modificados, conhecidos pela sigla OGM. Nenhum dos seus ingredientes à base de plantas, por exemplo, provém de uma cultura geneticamente modificada como milho ou soja, em cuja produção o glifosato é habitualmente utilizado.
No entanto, segundo a mesma publicação, o limite de segurança estabelecido pela EPA tem vindo a ser questionado pela Organização Mundial da Saúde, mais especificamente pelo Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro, que já em 2015 dizia que o glifosato poderá causar alguns tipos de cancro.
A Monsanto, multinacional de agricultura e biotecnologia sediada nos EUA, e outras empresas que produzem produtos que contêm glifosato refutam os estudos e dizem que não há motivo de preocupação, sendo que o governo norte-americano e outros reguladores tendem a concordar que níveis muito baixos não são prejudiciais para os seres humanos.
Ainda assim, este tema está longe de ser claro ou consensual. Estudos divergentes sobre o impacto do glifosato na saúde dividem governos, cientistas, reguladores e até mesmo a OMS. Pesquisas recentes, publicadas na revista “Scientific Reports”, sugerem que mesmo pequenas quantidades de glifosato podem ter um impacto muito negativo no corpo humano. Ratos de laboratório que ingeriram doses diárias muito baixas de glifosato (equivalentes a uma porção de gelado para crianças) apresentaram sinais precoces de doença hepática em três meses e pioraram ao longo do tempo.
O “The New York Times” cita ainda Will Allen, fundador da organização Regeneration Vermont que trabalha com a Organic Consumers Association para persuadir Ben & Jerry’s (cuja sede se situa precisamente em Vermont) a tornar-se orgânica: “Se fossem totalmente orgânicos não teriam este problema”. É que os regulamentos federais que regulamentam a agricultura orgânica proíbem totalmente o uso de glifosato.
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