Tigres-dentes-de-sabre: Será que estes felídeos ancestrais rugiam ou rosnavam?
O tigre-dentes-de-sabre (Smilodon fatalis) é uma imagem icónica da paisagem americana, e estima-se que a espécie tenha sido extinta há cerca de 10 milhões de anos. Por isso, saber como comunicava é um desafio, mas paleontólogos da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América, acreditam estar mais perto de descobrir que tipo de vocalizações este felídeo pré-histórico produzia.
Os felídeos modernos podem ser divididos em dois grupos: os que rugem, como os leões e os tigres, e os que emitem vocalizações mais baixas, rosnidos, como os linces, os pumas, os ocelotes e os gatos domésticos.
Adam Hartstone-Rose, um dos autores do artigo publicado esta semana na revista ‘Journal of Morphology’, explica que, em termos evolutivos, por exemplo, os leões e os gatos domésticos estão muito mais próximos uns dos outros do qualquer um deles está dos tigres-dentes-de-sabre.
No que toca ao tipo de vocalizações que esses animais ancestrais eram capazes de produzir, os investigadores dizem que o ‘segredo’ está num pequeno osso chamado hioide, localizado na região da laringe. E explicam que o tamanho e a forma do hioide é o que permite aos felídeos rugirem ou rosnarem e ronronarem.
Enquanto os humanos têm apenas um osso hioide, os felídeos que rosnam e ronronam têm nove articulados entre si, e os que rugem têm sete. É essa diferença que se reflete na forma como esses animais produzem vocalizações.
A investigação passou pela comparação dos ossos hioide de quatro espécies de felídeos que rugem (leão, tigre, leopardo e jaguar), de cinco de felídeos que rosnam ou ronronam (puma, chita, caracal, serval e ocelote) e de 150 hioides fossilizados de S. fatalis. E a resposta, apesar de tudo, não foi clara.
Embora o tigre-dentes-de-sabre tenha sete ossos, o que indicaria que rugia, ao invés de rosnar ou ronronar, os cientistas argumentam que os ossos hióideos do felídeo pré-histórico apresentavam uma forma e tamanho distintos dos que são encontrados nos felídeos modernos.
Alguns desses ossos “são muito mais semelhantes aos dos gatos que ronronam, mas são muito maiores”, explica Hartstone-Rose. Os cientistas reconhecem que é, pelo menos por agora, impossível afirmar com certeza absoluta se o tigres-dentes-de-sabre rugiam, rosnavam ou ronronavam.
Se para a produção de vocalizações o número de ossos do hioide era o mais importante, “então os tigres-dentes-de-sabre rugiam”, mas se o que era relevante era a forma desses ossos, então “eles talvez ronronassem”, sugere o cientista.
“Como os tigres-dentes-de-sabre têm coisas em comum com ambos os grupos, até podem ter produzido vocalizações completamente diferentes” das que hoje conhecemos nos felídeos.
“Embora o Smilodon não fosse tão grande quanto os maiores dos felídeos modernos, os seus ossos hióideos são substancialmente maiores do que os de qualquer um dos seus parentes que hoje vivem, pelo que, provavelmente, terão sido capazes de produzir vocalizações ainda mais graves do que os maiores tigres e leões”, propõe Ashley Deutsch, primeira autora do artigo.