Todos diferentes, corações iguais



No próximo sábado, dia 3 de Dezembro, celebra-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Mais do que falar das diferenças de quem é portador de deficiência, o projecto TODOS DIFERENTES, CORAÇÕES IGUAIS quer falar deste tema sem negativismo, sem pudor, sem aquela estranheza de quem o coloca à sombra da vida.

Neste projecto da editora Have a Nice Day, a oradora motivacional e escritora Mafalda Ribeiro junta-se ao ilustrador Bruno Gaspar para editar uma agenda da inclusão 2017 e um conjunto de cadernos para mostrar que o humor pode e deve estar ligado à inclusão. César Mourão surge, assim, como o embaixador perfeito para esta iniciativa social que ganha vida sob a forma de uma agenda para 2017, que estará à venda amanhã com o jornal Público.

Conheça agora melhor o projecto TODOS DIFERENTES, CORAÇÕES IGUAIS pela voz de uma das suas mentoras, Mafalda Ribeiro.

No próximo dia 3 celebra-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Falar de deficiência continua a ser um tema tabu para os portugueses? Algo que é sempre tratado de forma sisuda? 

Falar e interagir com a deficiência. Na minha opinião, nós já não somos um povo alegre e optimista por natureza e quando se trata de falar de algo que já é rotulado à partida como algo negativo, pior ainda. Não gosto de generalizações, mas pela minha experiência aquilo que constato que ainda acontece é que as pessoas acham que a deficiência é aquela “tragédia” que só aconteceu a alguns. Falar sobre isso fica na prateleira até aos actos de solidariedade colectivos e relacionarmo-nos com as pessoas com deficiência está longe de ser uma coisa natural.

Para quem ainda não conhece, que projecto é este TODOS DIFERENTES, CORAÇÕES IGUAIS?

É exactamente o meu contributo, enquanto portadora de deficiência congénita, de levar as pessoas a mudar de atitude. Se queremos que aconteçam mudanças profundamente estruturais na aplicação dos direitos das pessoas com deficiência, na erradicação da exclusão social, na extinção das barreiras arquitectónicas, etc., temos todos que partir de uma mudança de atitude perante a diferença. Afinal, o que é que é ser-se normal? Não somos todos seres humanos com um coração a bater dentro das nossas “embalagens” diferentes?

Todos Diferentes, Corações Iguais é muito mais do que uma Agenda ternurenta para 2017, com os desenhos absolutamente maravilhosos do Bruno Gaspar e as frases que eu uso diariamente na forma descontraída com que lido com a minha própria deficiência. É o mote para uma campanha que pretendemos que vá muito mais para além de uma efeméride (3 de Dezembro), afinal uma agenda tem 365 dias, certo? Pois bem, as pessoas com deficiência também têm 365 dias para lutar todos os dias perante o preconceito. Como? Com a naturalidade de um sorriso. E é por isso que aliámos o humor à mensagem de inclusão. É preciso rimo-nos mais para a vida para ela não se rir de nós!

Ainda há muito preconceito com o que é diferente da norma, daquilo que é diferente de nós? Como se explica a alguém que encara a diferença com indiferença que somos todos iguais, todos feitos da mesma matéria? 

Para mim é tudo uma questão de identidade! As pessoas que querem muito pertencer à norma, talvez para serem aceites, é porque não sabem quem são e isso é que é mau. Acredito que todos fomos criados com um propósito, diferentes, e para fazermos a diferença no mundo. Isso não tem nada que ver com a nossa aparência nem com as nossas limitações. Afinal, limitados somos todos em alguma coisa. O preconceito só existe porque em crianças não fomos educados para a diversidade. E hoje, em adultos, achamos que já não vamos a tempo. Não se explica, mostra-se. Como se faz às crianças… quando não percebem, fazemos um desenho! Foi o que tentámos fazer com esta agenda.

TODOS DIFERENTES, CORAÇÕES IGUAIS quer quebrar barreiras e ser um motor para uma melhor inclusão social. Não podendo mudar o mundo de uma vez só, o que gostava que acontecesse na inclusão em Portugal já amanhã? 

Há um tempo para tudo. Eu acredito no tempo da observação, da informação, da sensibilização, da discussão, mas também tem de vir o tempo da penalização. Já amanhã? Que se penalizasse quem não cumpre a lei que contribui para a inclusão social, porque em muitas áreas ela não precisa de ser inventada. Já existe há décadas. Mas que se fiscalize e penalize à séria quem continua indiferente a ela. Que isso aconteça com a EMEL a rebocar carros ou a ASAE a fechar estabelecimentos. Assim percebíamos todos, sem ser preciso grandes explicações que, por exemplo, uma casa de banho adaptada para as pessoas com deficiência num edifício público não é uma sala de arrumos! Conclusão, temos mesmo de trabalhar a nossa consciência e consistência em termos de cidadania para a seguir a aplicarmos na inclusão social.

Numa palavra, o que é a inclusão social para si? 

Esperança!

Mesmo perante a adversidade a Mafalda tem sempre uma atitude muito positiva, nunca perguntando o “porquê”, mas “para quê”. Qual o segredo para ver sempre o copo meio cheio? 

Encher o copo de palavras positivas, pessoas relevantes que me edificam e amam, gargalhadas que transformam escadas em rampas, convicções profundas de quem sou e porque cá estou, emoções bonitas de quem se encanta com as coisas simples da vida e toneladas de gratidão por poder viver a vida a SORRIR SOBRE RODAS!

Fotos: GOYA

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