Torpor: A ‘arma’ dos beija-flores contra o frio



Os beija-flores, pequenas aves de cobres exuberantes e de bicos compridos que se alimentam do néctar das flores, têm o metabolismo mais veloz do reino animal. Nativos das Américas, levam vidas aceleradas, capazes de ficarem imóveis em pleno ar devido ao batimento alucinante das suas asas, gerando uma alta temperatura interna.

Tudo isso gasta imensa energia, pelo que, para se manterem vivos, precisam de estar constantemente a alimentar-se. E para sobreviverem às noites frias, os beija-flores entram num estado de torpor, uma espécie de hibernação que lhes permite reduzir o metabolismo e, com isso, diminuir a quantidade de energia gasta.

Cientistas da Colômbia e dos Estados Unidas da América descobriram que essas aves peculiares não só recorrem ao torpor como mecanismo de conservação de energia, como o usam em diferentes graus, consoante as condições ambientais exteriores e a sua própria condição física.

A investigação, publicada na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, abrangeu o estudo de 249 indivíduos representantes de 29 espécies de beija-flores recolhidos na região ocidental dos Andes colombianos. A Colômbia é a casa de 168 espécies de beija-flores, mais do que qualquer outro país no mundo.

Justin Baldwin, da Universidade de Washington e o principal autor do artigo, e a sua equipa estudarem os beija-flores na região ocidental dos Andes na Colômbia.
Foto: Washington University in St.Louis

Justin Baldwin, da Universidade de Washington e o principal autor do trabalho, explica que “o torpor está algures entre uma boa sesta e a hibernação” e que, através desta investigação, se percebeu que o torpor não reduz ao mínimo o metabolismo, mas pode ser ‘ajustado’ de acordo com as necessidades da ave para conservar energia.

Dependendo das espécie, os beija-flores podem estar no estado de torpor durante apenas algumas horas ou durante toda a noite, e podem ‘acordar’ horas ou minutos antes do nascer do sol.

“O torpor pode ser a diferença entre sobreviver às frias temperaturas noturnas em altas elevações, ou morrer a tentar regular a sua temperatura corporal usando energia das suas reservas internas”, aponta Gustavo Londoño, da Universidad Icesi, na Colômbia, e outro dos autores. Assim, para maximizarem as hipóteses de sobrevivência nas noites frias, mais vale reduzir o consumo de energia do que gastá-la a tentar manter a temperatural corporal elevada.

No entanto, os cientistas dizem que a saúde da ave é essencial para o sucesso do torpor. Caso a sua condição física não seja a melhor, o animal pode não conseguir regressar desse ‘sono profundo’.

Os autores acreditam que é graças a esse mecanismo que os beija-flores foram capazes de colonizar áreas a grande altitude nos Andes e sobreviver às baixas temperaturas. Ao longo da investigação perceberam que as aves que eram capazes de recorrer ao torpor com maior rapidez e facilidade estavam também presentes nessas zonas mais frias.

“Embora não saibamos o que veio primeiro – se o aumento da prontidão para usar o torpor ou a capacidade para persistir em grandes elevações – acreditamos que a prontidão dos beija-flores para usar o torpor está provavelmente associada à conquista evolucionária dos habitats montanhosos”, sugere Baldwin.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...