Travar a desflorestação é essencial para garantir a estabilidade financeira mundial, alerta organização



Mais de metade de toda a riqueza mundial depende, moderada ou altamente da natureza e dos seus serviços, pelo que a destruição das florestas e da diversidade biológica coloca em “sério risco” a estabilidade do sistema financeiro mundial.

Uma investigação da organização não-governamental Global Witness revela que “o investimento generalizado em negócios e atividades relacionadas com a desflorestação exacerba as alterações climáticas” e que a perda de floresta emitiu, em 2021, tantas emissões de dióxido de carbono e outros gases poluentes quanto a Índia, o terceiro país que mais envia CO2 para a atmosfera.

Considerando que “os bancos centrais desempenham um papel central na economia, desde a supervisão das instituições financeiras à promoção da proteção dos consumidores”, os últimos anos trouxeram “maior pressão sobre esses bancos para usarem a sua influência para responderem à emergência climática e para assegurar que as suas políticas estão alinhadas com os planos do seu país para reduzirem a zero as emissões”.

Com o título ‘Bankrolling Destruction’, o relatório denuncia que o Banco de Inglaterra, a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu “compraram grandes volumes de dívida emitida por empresas associadas à desflorestação e à destruição da floresta”.

“No final do último ano, a Global Witness mostrou que bancos e gestores de ativos sediados na União Europeia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e a China fecharem negócios no valor de 160 mil milhões de euros com empresas acusadas de destruir a floresta tropical no Brasil, no sudeste asiático e em África entre 2016 e 2020”, adianta a organização, indicando que “não é de surpreender que os bancos privados e os gestores de ativos (…) continuem fortemente investidos em algumas das mais ambientalmente destrutivas empresas do mundo”.

“Publicamente, os bancos centrais referem-se cada vez mais quer a ‘riscos físicos’, resultantes de danos potenciais a ativos tangíveis, como terrenos e edifícios, quer a ‘riscos transicionais’ que surgem quando as empresas e o setor financeiro não estão preparados ou não conseguem responder a mudanças climáticas em termos de regulamentação, tecnologia, litigação e preferências de consumo”, explica a organização.

Contudo, argumenta que “avaliar esses riscos relacionados com o clima e com a natureza, e os seus potenciais impactos na estabilidade financeira, é território novo para a maioria dos bancos centrais. Por isso, em 2017, oito deles criaram a rede NGFS, que tem como objetivo tornar o sistema financeiro mais ‘verde’, mobilizando financiamento para o clima e para o desenvolvimento de novas metodologias para avaliar e supervisionar os impactos ambientais do setor.

A NGFS contava em março com mais de 116 membros e reconhecia que a desflorestação é uma questão de “particular preocupação’, visto que ameaça a estabilidade financeira mundial através da perda de biodiversidade. “Contudo, apesar disso, ações para travar a desflorestação continuam ausentes da agenda dos bancos centrais”, alerta a Global Witness.

O Banco de Inglaterra, a Reserva Federal e o Banco Central Europeu são membros da NGFS, “mas, até ao momento, têm feito progressos desiguais sobre a desflorestação”. Embora tenham emitido orientações para as instituições que supervisionam sobre a necessidade da redução dos impactos sobre as florestas, quer o Banco de Inglaterra quer o Banco Central Europeu não priorizaram “os riscos representados pela desflorestação nessas orientações”, acusa a organização não-governamental.

A Global Witness apela aos bancos centrais para deixarem de comprar títulos de empresas e indústrias associadas à perda de floresta, dando como exemplo o Banco Nacional Suíço, que desde 2020 deixou de investir em empresas cujos produtos “violem seriamente os direitos humanos fundamentais” e que “prejudiquem gravemente a biodiversidade”.

“Os bancos centrais devem adotar políticas explícitas de ‘zero-desflorestação’ como parte das suas estratégias para o clima, para a natureza e para a biodiversidade”, insta a Global Witness, acrescentando que as entidades supervisoras devem apostar na transparência dos impactos ambientais das suas próprias atividades, bem como das atividades das empresas e indústrias que supervisionam.

Do lado dos governos, os ativistas defendem que “devem efetivamente regulamentar as instituições financeiras e as empresas, de forma a travar e prevenir o financiamento da desflorestação, conferindo poderes aos bancos centrais para executarem eficazmente o seu papel de supervisão”.

“Enquanto supervisores do setor financeiro privado, os bancos centrais devem liderar pelo exemplo e adotar política explícitas de ‘zero-desflorestação como parte da sua abordagem às alterações climáticas, incluindo o desinvestimento em todos os títulos relacionados com a desflorestação e implementar maior escrutínio da ameaça à estabilidade financeira representada pela desflorestação e pela perda da biodiversidade”, reiteram os especialistas.





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