Por que os lobos são mais rentáveis vivos que mortos
Nenhum outro grande predador conseguiu aguentar tão bem a pressão dos humanos como o lobo, um animal perseguido até aos anos 70 e que, desde então, tem sido considerado espécie de interesse comunitário em vários países, o que o levou a recuperar algum território.
No entanto, nos anos mais recentes esta protecção tem sido posta em causa em várias partes do globo. No Verão passado, por exemplo, a França e Suíça tornaram o abate de lobos mais fácil; mais a Norte, na Noruega, só existem 30 lobos, mas 11.571 cidadãos pediram uma licença, ao Governo, para os matar; nos Estados Unidos, são os próprios cidadãos-activistas que têm de salvaguardar a sobrevivência na espécie; e em Portugal foi o secretário de Estado do Governo então em funções que, em Março passado, garantiu que os lobos continuariam a receber um estatuto especial de conservação.
Na vizinha Espanha, por estes dias, o tema da caça ao lobo voltou para a agenda mediática, depois de os agricultores pedirem o seu “controlo”, um eufemismo para outro tipo de acções mais graves sobre a espécie. Como a caça. Segundo o ABC, os agricultores de todas as regiões espanholas garantem que “onde há rebanhos não podem haver lobos. Eles são incompatíveis”.
Em 2014, os Governos de Espanha e França enviaram para Bruxelas uma petição a pedir a modificação da Directiva de Habitats que, mantendo a proibição da caça ao lobo a sul do rio Douro, permite a sua “gestão” a norte do rio.
“Não queremos caçar as alcateias da Sierra Morena [onde o lobo permanece em estado crítico], mas as que cruzam o rio a norte e atacam os rebanhos a sul”, explica um responsável da Junta de Castilla y León ao ABC.
Esta modificação da directiva não cai nas boas graças dos conservacionistas. Theo Oberhuber, coordenador do grupo Ecologias en Acción, afirma que caçar os lobos não soluciona nenhum problema, pelo contrário. E socorre-se de um estudo do biólogo Alberto Fernández Gil que assegura que “mais lobos mortos levarão a mais danos”, devido ao carácter social do animal: quando o macho ou fêmea alfa morrem, o grupo desfaz-se e ataca o gado.
A convivência não é fácil mas é possível com os métodos tradicionais de pastoreio: “com mastins e gado recolhido à noite”, explica Oberhuber. Por outro lado, “o lobo vivo vale mais que o lobo morto, como está demonstrado pelo turismo” ligado a este animal.
Finalmente, os danos dos lobos são mínimos e afectam apenas 0,04% do gado, como ficou provado numa sequência de ataques em Armuña, Segóvia, em 2001. No total, os danos cifraram-se em €2 milhões, mas o maior problema, dizem os agricultores, é o stress que os lobos provocam nas ovelhas.
Os ecologistas concordam que não devem ser os agricultores a pagarem estes prejuízos e que, inclusive, sejam ajudados com os mastins e cercas eléctricos. Mas também recordam que muitos destes ataques atribuídos a lobos são, na verdade, apenas cães descontrolados.
Foto: Angell Williams / Creative Commons