Turismo sustentável: “Têm sido dados passos muito importantes”, mas “há um trabalho ainda a fazer”, diz Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal



O Turismo é uma atividade económica que tem um peso indelével na produção de riqueza em Portugal, tendo em 2021 sido responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, isto é, gerou, direta ou indiretamente, perto de 17 mil milhões de euros.

No entanto, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) considera que o turismo, apesar de ser um motor fundamental da dinamização da economia a nível global, tem vindo a aumentar o seu consumo de recursos-chave, como água, energia, terra e materiais, contribuindo para o aumento dos “resíduos sólidos, esgotos, perda de biodiversidade e emissões de gases com efeito de estufa”.

Assim, estará o Turismo verdadeiramente alinhado com as preocupações ambientais contemporâneas? No que a Portugal diz respeito, Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal, afirma que “têm sido dados passos muito importantes”.

Em declarações à ‘Green Savers’, à margem da conferência internacional da sustentabilidade Planetiers World Gathering, que ocorreu na semana passada em Lisboa, o responsável conta-nos que “não podemos ver a transição ambiental exclusivamente do lado a oferta”, ou seja, dos operadores do setor turístico. “Não são só os hotéis, os restaurantes, os rent-a-cars e as agências de viagens que têm de ser mais sustentáveis”.

Reconhecendo, contudo, que nessa vertente “há um trabalho ainda a fazer”, Luís Araújo salienta que “há também um trabalho a fazer do lado do consumidor”, apontando que os turistas devem abandonar uma perspetiva “descartável” do turismo e perceber que “a própria maneira de viajar tem de ser mais sustentável”. E isso passa por optar “por valores que tenham a ver com a autenticidade do lugar, com a responsabilidade que essa pessoa tem perante um território”.

Nesse sentido, o Turismo de Portugal está a trabalhar no sentido de fazer com que o turismo seja encarado “como uma atividade positiva” que crie valor económico e seja um pilar central da dinamização de territórios, regiões e comunidades.

“É um trabalho conjunto”, diz Luís Araújo, e que tem de ser feito “mesmo a nível internacional”. Uma das medidas poderá passar, por exemplo, pelo incentivo à plantação de mais espécies autóctones em projetos turísticos, pela implementação de medidas de gestão eficiente da água, da energia e de resíduos.

O responsável reitera que a transformação de padrões de procura e de consumo do lado dos viajantes é essencial para “obrigar a uma mudança de paradigma”, apontando que a típica imagem de um hotel de cinco estrelas com um relvado bem aparado na entrada “é um desastre ambiental” e que os turistas devem perceber que “um prado repleto de flores é muito mais útil à natureza”. Assim, destaca que a padronização das unidades hoteleiras deve ser ultrapassada, para que essas estruturas possam refletir os valores ecológicos dos locais e regiões onde são erigidos, e essa pressão deve também partir dos turistas.

Relativamente às acusações de que o turismo é um setor que muito contribui para as emissões de gases poluentes para atmosfera, Luís Araújo sublinha que “há setores que têm muito mais impacto ambiental e muito mais emissões do que o turístico”, indicando que o turismo está muitas vezes nas luzes da ribalta por ter uma dimensão global, ao passo que muitos outros atuam em áreas geográficas mais limitadas.

O percurso do turismo nos últimos anos tem sido “absolutamente extraordinário”, não só em Portugal, mas também a nível mundial, afiança o responsável, que afirma que se tende somente a pensar no impacto ambiental que o setor tem “sem pensar no impacto positivo que traz, a nível do crescimento de desenvolvimento das regiões, de ligação entre comunidades e culturas”.

“Considero que é preciso um maior reconhecimento do valor positivo do turismo”, argumenta, referindo que “hoje estamos a ter uma atuação muito positiva”, mas admite que “isso não significa que não haja coisas a melhorar para sermos ainda mais sustentáveis” e que o setor tem, de facto, um impacto ambiental e que “é útil” trabalhar no sentido de reduzi-lo ainda mais.

Luís Araújo, olhando para Portugal, destaca que o setor hoje pode aceder a mais e melhores dados que permitem tomar as decisões mais acertadas, apontando que têm sido feitos grandes esforços ao nível da transição digital no turismo. “Ainda não estamos onde queremos estar, mas temos avançado bastante”, garante, explicando que a tecnologia é hoje não só uma ferramenta de comunicação e de alcance dos clientes, mas também uma forma de os agentes do setor turístico poderem tornar as suas operações mais eficientes e perceberem quais os seus impactos ambientais.

O responsável indica que foram também feitas conquistas ao nível da valorização dos trabalhadores do setor, através, nomeadamente, da aposta em formação profissional.

Relativamente à abertura dos agentes turísticos para investirem na sustentabilidade ambiental dos seus negócios e, consequentemente, do próprio setor, visto que o retorno desses investimentos poderá não acontecer no curto prazo, Luís Araújo relata-nos que “há também uma perceção de que se trata apenas de investimento”, mas que é, simultaneamente, “uma preocupação com a sustentabilidade da própria atividade”.

Indicando que ainda são poucos os turistas que realmente exigem que os operadores turísticos sejam mais sustentáveis – “ainda é um segmento pequeno”, diz-nos o responsável –, “estamos a evoluir nesse sentido” e “temos de estar preparados para essa mudança”.

Estima-se que dois terços do turismo em Portugal assente em viajantes internacionais e que cerca de 90% cheguem de avião, pelo que “temos que pensar que é também importante compensarmos aquilo que as pessoas fazem”, assinala Luís Araújo.

“Eu diria que estamos num bom caminho” para tornar o turismo em Portugal mais sustentável e, continua o responsável, “existe um alinhamento muito grande nesse sentido entre todos os intervenientes do setor”.

Reiterando que tal não significa que não haja problemas a resolver e melhorias que devem ser feitas, Luís Araújo diz que a resposta não passa por “soluções simples de bloquear ou eliminar ou acabar, porque, isso sim, é colocar em risco o setor do turismo”.

Sobre o desempenho do setor em Portugal, o Presidente do Turismo de Portugal afiança que 2022 “será o melhor ano de sempre em termos de receitas”, mesmo acima dos valores pré-pandemia de 2019.

Para Luís Araújo, um projeto turístico no qual valha a pena investir é um que “respeita o território onde está e as pessoas que estão à sua volta”.

“Esses são os projetos que nós queremos”, assume, adiantando que “cada vez mais temos esse tipo de projetos a acontecer em Portugal”.





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