“Um assassino silencioso”: Ondas de calor matam milhares todos os anos e poderão ser 14 vezes mais frequentes, alertam ONU e Cruz Vermelha
“O calor extremo é um assassino silencioso cujos impactos certamente aumentarão, levantando enormes desafios para o desenvolvimento sustentável e criando novas necessidades urgentes que exigirão uma respostas humanitária”. O alerta é feito pelas Nações Unidas e pela Cruz Vermelha, num relatório publicado esta segunda-feira, que alerta que todos os anos milhares de pessoas morrem devido ao calor extremo.
Entre 2010 e 2019, 38 ondas de calor registadas pela Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC) foram responsáveis pela morte de mais de 70 mil pessoas em todo o mundo, tendo sido um dos maiores perigos mortais observados nesse período.
“A crise climática não é uma preocupação futura para os humanitários”, salientam as organizações, avançando que desastres relacionados com fenómenos climáticos extremos causaram a morte de mais de 410 mil pessoas a nível global na última década, com uma grande incidência sobre países pobres ou com rendimentos médios.
Os especialistas apontam que “os perigos do calor extremo estão a crescer a um ritmo alarmante devido às alterações climáticas”, destacando que esses impactos são sentidos de forma “grandemente desigual” em termos sociais e geográficos. “Numa onda de calor, as pessoas mais vulneráveis e marginalizadas, incluindo trabalhadores agrícolas e migrantes, são empurrados para as linhas da frente”, sendo que “os idosos, grávidas e mulheres que amamentam estão expostos a um maior risco de contração de doenças e de morte associadas a temperaturas ambientais elevadas”.
O relatório indica que “há evidências convincentes” de que os países mais pobres do mundo, “que são os que menos contribuem para as alterações climáticas”, estão já a experienciar aumentos de fenómenos de calor extremo mais intensos do que os países que mais gases poluentes emitem para a atmosfera.
Citando as conclusões do sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), as organizações avisam que os fenómenos de calor extremo “serão cada vez maiores com o aumento do aquecimento global”. E afirmam que “um evento de calor extremo que deveria ocorrer a cada 50 anos, num clima sem influência humana, é agora quase cinco vezes mais provável”.
Se for atingida a meta de dois graus centígrados de aquecimento do planeta, o limite máximo estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015 e que já se insere no quadro dos possíveis piores cenários climáticos, “estima-se que um evento de calor extremo possa ser quase 14 vezes mais provável”.
Para as décadas vindouras, os especialistas preveem que serão ultrapassados os limites fisiológicos e sociais das populações mais afetadas por temperaturas extremas, dando especial destaque às regiões do Sahel e do sul e sudoeste da Ásia. A análise enfatiza que “as cidades estão no epicentro da vulnerabilidade às ondas de calor”, uma afirmação que se reveste de grande preocupação quando as projeções apontam para que, até 2050, o número de pessoas pobres a viverem em centros urbanos aumente em 700%.
As ondas de calor serão também responsáveis pela deterioração da agricultura e das atividades relacionadas com o gado, degradarão recursos naturais, danificarão infraestruturas e contribuirão para a intensificação dos fluxos migratórios.
Para que desastres relacionados com as ondas de calor possam ser evitados no futuro, as organizações apontam que o mais importante é, realmente, “desacelerar e travar as alterações climáticas”, limitando o aquecimento global a 1,5 graus. Essas ações poderão impedir que até 420 milhões de pessoas em todo o mundo fiquem frequentemente expostas a ondas de calor extremo.
O financiamento de operações de assistência humanitária e de estratégias de mitigação e adaptação aos efeitos das alterações climáticas são indicadas como fundamentais para proteger as populações mais vulneráveis.