Um ciclo vicioso de poluição: Queima de combustíveis fósseis aumenta CO2 libertado pelo solo



O aquecimento global é fortemente alimentado pelos gases com efeito de estufa libertados, sobretudo, pela queima de combustíveis fósseis, seja ao nível da mobilidade, seja ao nível das atividades industriais. No entanto, é importante perceber que há outras fontes que devem ser tidas em conta quando se procura prever a evolução das alterações climáticas.

Uma delas é o próprio solo. Apesar de se considerar um dos maiores sumidouros de carbono que temos ao nosso alcance, e, por isso, um aliado de peso no combate à crise climática, o solo é um ‘organismo’ vivo que, tal como todos os outros, está sujeito às modificações ambientais, sejam elas boas ou más.

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos revela agora que o nitrogénio enviado para a atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, e à boleia dos outros gases poluentes, acidifica o solo e faz com que o carbono sequestrado seja libertado.

Estima-se que desde 1850 as emissões de nitrogénio para a atmosfera tenham triplicado, devido à intensificação da atividade agrícola e da queima de combustíveis fósseis. O nitrogénio é muitas vezes utilizado como fertilizante, pelo que seria de esperar que quanto maior for a concentração de nitrogénio na atmosfera, mais as plantas crescerão e, assim, mais carbono seria armazenado nos solos.

No entanto, não é isso que observaram nos solos de regiões áridas, que representam perto de 45% de toda a área terrestre a nível planetário e que se considera que sejam grandes ‘armazéns’ de carbono.

Analisando as terras áridas do Sul da Califórnia, nos EUA, os cientistas perceberam que o excesso de nitrogénio no ar causa a acidificação do solo. Dessa reação, resulta a libertação de cálcio, a desestabilização do carbono e “os dois elementos deixam o solo juntos”. Sem o cálcio que o mantém estável e armazenado no solo árido, o carbono regressa à atmosfera, transformando os solos de regiões áridas em emissores, ao invés de sumidouros.

Johann Püspök, da UC Riverside e principal autor do artigo publicado na ‘Global Change Biology’, explica que é preciso investigar mais para perceber melhor como é que a poluição por nitrogénio está a afetar os solos das regiões áridas e a sua capacidade para armazenar carbono.

Contudo, e visto que o princípio da precaução deve imperar quando o conhecimento científico é ainda escasso, os investigadores defendem que reduzir ao máximo possível as emissões para ajudar os solos a reter o carbono armazenado.

“A poluição do ar pela queima de combustíveis fósseis tem muitos impactos, incluindo na saúde humana, causando asma”, recorda Püspök, acrescentando que “pode também afetar a quantidade de carbono que estes sistemas de terras áridas podem armazenar”, e podemos correr o risco de transformar reservatórios de carbono em múltiplas fontes, agravando ainda mais o aquecimento global e os efeitos das alterações climáticas.





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