Um mundo numa gota: Cientistas estudam mel para desvendar a vida secreta das abelhas



O mel é a principal fonte de alimento das colmeias de abelhas, criado a partir do pólen e do néctar recolhidos por estes insetos laboriosos e altamente sociais durante as suas visitas às flores, uma atividade que é considerado um serviço de ecossistema de grande importância, pois impulsiona a polinização natural, da qual dependem, hoje, cerca de 75% de todas as plantas que usamos na nossa alimentação.

Uma investigação de cientistas da Finlândia, da Estónia e a Suécia, centrada nas abelhas-europeias (Apis mellifera) revela-nos agora que o mel contém vestígios de ADN, a molécula que é a base de toda a vida na Terra, que ajudam a compreender os segredos mais bem guardados destes pequenos insetos.

 

Helena Wirta, da Universidade de Helsínquia e a principal autora do artigo divulgado na ‘PLoS ONE’, explica que as análises ao mel permitem perceber os hábitos das abelhas. “Isso é algo que não podemos perguntar diretamente às abelhas”, afirma.

O estudo das moléculas de ADN presentes no mel desvendou que essas abelhas não se alimentam de qualquer planta, mostrando preferência pelas flores de colza, dos trevos, das macieiras e dos morangueiros.

No entanto, o que mais surpreendeu os cientistas foi o facto de o ADN das plantas não ser o que mais abunda no mel. Em muito maior número, foi detetado o material genético de bactérias e de vírus. Entre as descobertas, foi encontrado o ADN de bactérias que são prejudicais para as plantas, mas também de bactérias que as ajudam a combater outras doenças.

Por isso, Wirta sugere que é muito provável que as abelhas melíferas estejam a transportar, de uma planta para outra e para a sua própria colmeia o material genético de toda essa vida bacteriana e dos vírus. No entanto, e tal como é do conhecimento popular, o mel tem propriedades antimicrobianas, pelo que o ADN de bactérias e vírus encontrado no mel estava num estado de ‘dormência’.

Os investigadores acreditam também que esses micróbios residem nas próprias abelhas, e não apenas no mel que elas produzem, tal como acontece com muitos outros organismos vivos, incluindo os humanos, estabelecendo uma relação simbiótica de ganho mútuo. Recordemos que o nosso aparelho intestinal, por exemplo, está repleto de bactérias que ajudam os humanos a digerir os alimentos ingeridos e a potenciar a absorção de nutrientes.

Ainda assim, nem todo o ADN detetado era benéfico, com algumas moléculas a pertencerem a bactérias e a fungos que causam doenças às próprias abelhas.

“Isto sugere que as abelhas desempenham um papel na propagação destes micróbios específicos”, aponta Wirta, salientado que os investigadores doenças devem olhar com mais atenção para o que se esconde no mel.

“Se, por exemplo, descobrirmos que as abelhas melíferas e certos outros polinizadores visitam a mesma espécie de planta, as flores dessa planta podem servir de plataforma para a partilha de micróbios, quer benéficos, quer prejudiciais”, acrescenta.

Mas o potencial de conhecimento encapsulado no mel pode ser muito maior. Tomas Roslin, da Universidade Sueca de Ciência Agrícolas e outro dos autores, argumenta que “se os vestígios de ADN de quaisquer organismos com os quais as abelhas melíferas contactam estiverem realmente registados no seu mel, então isso é realmente um salto enorme para todos nós que tentamos compreender como as espécies se juntam para formar ecossistemas”.





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