Uma das maiores tartarugas que já existiu foi descoberta na Europa
Foi em julho de 2016, que um alpinista se deparou acidentalmente com fragmentos ósseos em Espanha, perto da localidade de Coll de Nargó, no norte desse país. Ao local, acorreram especialistas do museu local e do departamento cultural catalão, que recolheram os fragmentos.
No entanto, foi só em 2021 que os ossos começariam a ser estudados, impulsionando novas escavações no local, onde os cientistas vieram a descobrir a pélvis e a carapaça de uma tartaruga gigante ancestral, uma espécie até então desconhecida, e que terá nadado pelos mares da Europa há mais de 70 milhões de anos, enquanto os dinossauros reinavam em terra.
Com 3,7 metros de comprimento, a tartaruga foi batizada com o nome científico Leviathanochelys aenigmatica, e veio provar que, afinal, o gigantismo nesse grupo de animais não está limitado à América do Norte. Nessa região tinham já sido encontradas outras duas espécies de tartaruga, a Archelon ischyros e a Protostega gigas, cujo comprimento ultrapassava largamente a maior tartaruga que, até agora, se conhecia na Europa, com 1,5 metros.
Apesar de a L. aenigmatica não ser maior do que a Archelon, que tinha mais de 4 metros da cabeça à cauda, é, ainda assim, a maior que alguma vez foi descoberta na Europa, e entra para o ranking das maiores tartarugas que terão alguma vez existido.
Os autores do artigo que revela a descoberta escrevem que as grandes dimensões da L. aenigmatica podem ter sido uma resposta às condições ambientais do Cretácico europeu e sugerem que tenha sobretudo nadado nas águas do mar alto.
Àngel Luján, da Universitat Autònoma de Barcelona e um dos autores, acredita que o fóssil da L. aenigmatica possa ser apenas o primeiro de muitos. “Estamos otimistas e acreditamos que é possível encontrar mais espécies de tartarugas gigantes na Europa”, admite, explicando que anteriormente já tinham sido encontrados vestígios de grandes tartarugas marinhas na região, mas nenhum dos vestígios estava tão completo quanto do que foi encontrado em Cal Torrades.
“É uma mera questão de tempo até que novas espécies de tartarugas com grandes corpos do tempo dos dinossauros sejam encontradas”, garante Luján.
Atualmente, a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) é a maior espécie viva de tartaruga, podendo chegar aos dois metros de comprimento, embora já tenha sido possível registar espécimes com três metros.
Em comunicado divulgado pelo Museu de História Natural de Londres, Sandra Chapman, ex-curadora de fósseis de répteis e de aves dessa instituição, explica que a nova descoberta “é mais uma peça do puzzle das tendências na evolução das tartarugas”. E aponta que a L. aenigmatica vem suportar a tese de que “tamanhos extremos são mais comuns antes de uma extinção” e que corpos mais pequenos predominam depois desse evento, uma referência à última grande extinção em massa, há 65 milhões de anos, no Cretácico.