“Uma empresa sustentável é muito mais virada para o futuro”, afirma Miguel Martins da Grosvenor



Esta tarde, a Grosvenor House of Investment – Sociedade de Capital de Risco Independente e a Yunit Consulting, realizaram o webinar “Sustentabilidade & Inovação: Say What Again?”, onde foi debatida a importância e a contribuição da sustentabilidade nos modelos de negócio das empresas. Esta sessão contou com a presença de Miguel J. Martins, Sustainable Investments Partner na Grosvenor, e Bernardo Maciel, CEO na Yunit Consulting.

Miguel Martins começou por explicar que existe uma ligação entre a sustentabilidade e a inovação, sendo a última uma ferramenta para para tornar a atividade empresarial mais sustentável e positiva. Relembrou, em primeira mão, que em 2020 a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico definiu seis agentes de mudança a nível global: Crescimento populacional e urbano; Mudanças climáticas e degradação do ambiente e ecossistemas: Crescente escassez e competição por recursos; Aceleração tecnológica; Mudanças a nível económico e geopolítico; e Valores, estilo de vida e governança.

Estes pontos foram essenciais para consciencializar a necessidade de mudança, no entanto, foi em fevereiro de 2020, com o Manifesto de Davos, que se deu um ponto revolucionário. Neste evento, os líderes mundiais propuseram-se a definir o papel das organizações na Quarta Revolução Industrial e foram decididos várias coisas, expõe o especialista, começando pelo propósito da empresa, em que se tornou necessário ter na mesa de negociações todos os stakeholders que integram a cadeia de valor da organização. O conceito de criação de valor também sofreu alterações, passando a ser sustentável e partilhado. Neste ponto, Miguel Martins refere que “Quando nós falamos de criação de valor, nós automaticamente também estamos a falar de destruição de valor. É impossível criar valor sem destruir algum, o que é importante é que a margem de criação seja obviamente muito superior e que sejam tomadas medidas haver uma rede de segurança, principalmente social”. O ponto crucial passa pela mudança de economia de mercado para uma economia de sociedade, na qual as organizações devem ser tratadas como cidadãos corporativos. “A pergunta deixa de ser o que é que os mercados querem, ou o que é que os mercados precisam, para ser, o que é que os cidadãos querem, o que é que os cidadãos precisam”.

Define-se então a sustentabilidade como os 3Ps – Pessoas, Planeta e Prosperidade. O especialista em finanças sustentáveis explica que os stakeholders têm conhecimento da importância da sustentabilidade na criação de valor, mas que para este conceito ser integrado numa empresa, deve começar por cima, com o intitulado “Top Down Approach“. Quer isto dizer que é fundamental que o chefe dê o exemplo e apoie esta mudança, e que a sustentabilidade e os critérios ESG – Environmental, Social and Corporate Governance façam parte do currículo da empresa. Os stakeholders encontram-se a pressionar o setor de serviços e o setor produtivo “porque sabem que as empresas que têm uma estratégia de sustentabilidade são empresas que estão mais preparadas para o futuro”, sublinha o profissional. Isso é notável, por exemplo, no relatório publicado em 2020 pela BlackRock, onde se pode observar que “todos os índices de sustentabilidade (…) tiveram um desempenho muito melhor que os índices tradicionais”, acrescenta.

Em termos de inovação, o Miguel Martins aponta que na criação de valor, a área de oportunidades, que é menos trabalhada na parte da sustentabilidade, os ODS oferecem um grande leque de soluções a desenvolver. Como explica, relativamente a estes 17 objetivos, existe um funding gap de aproximadamente 2,5 a 3 triliões de dólares por ano até 2030.

Para desenvolver estas soluções inovadoras é necessário ter em atenção os modelos de negócio, refere, relembrando que a criação de valor não se restringe ao capital económico e financeiro, mas também engloba o capital material, que já é trabalhado em algumas empresas, e o capital humano e o natural, que são pouco utilizados, mas que o próprio considera serem “mesuráveis”. Dá o exemplo de países como a Nova Zelândia, a Escócia e a Finlândia, que incorporam o capital humano e o natural na medição do desempenho das suas economias – não se restringindo ao PIB.

Relativamente ao facto de um produto sustentável ser mais caro do que um tradicional, Miguel Martins adverte: “A razão porque isso é verdade é porque um produto sustentável tem um preço certo. Um produto não sustentável, na realidade não tem o preço que deveria ter (…) porque iria ter que entrar em linha conta com estes impactos negativos que iam claramente aumentar o preço”, ou seja, o impacto negativo que causa na sua produção e que não é visível.

Conclusivamente, Miguel Martins refere que “uma empresa sustentável é uma empresa muito mais virada para o futuro”, e sublinha que, comparativamente ao resto dos continentes, “a Europa está claramente na linha da frente”. Esclarece ainda que, a partir de janeiro de 2020, quando o setor financeiro for obrigado a reportar a sua atividade na área de ESG e onde colocam o seu dinheiro, irá desenrolar-se uma questão de “cascata”, ou seja, todas as empresas serão afetadas, inclusive as do setor produtivo, serão influenciadas a mudar.





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