União Europeia lidera importações de bens ligados à desflorestação ilegal



Quase um quarto do comércio mundial de bens agrícolas produzidos em terrenos ilegalmente desflorestados tem como destino a União Europeia (UE). A conclusão é de um relatório publicado esta semana pela Fern, uma organização não-governamental (ONG) de protecção das florestas, com sede em Bruxelas.

“Entre 2000 e 2012, de dois em dois minutos, uma área de floresta tropical equivalente, em média, a um campo de futebol foi ilegalmente destruída para fornecer carne de vaca, couro, óleo de palma e soja aos países da UE”, lê-se no documento, que revela que no mesmo período temporal foram destruídos 2,4 milhões de hectares de florestas nos trópicos.

No relatório intitulado “Bens roubados: a cumplicidade da UE na desflorestação tropical ilegal”, a Fern indica que a comunidade europeia importa “27% de toda a soja, 18% de todo o óleo de palma, 15% de toda a carne de vaca e 31% de todo o couro disponível no mercado internacional decorrente da destruição ilegal da floresta tropical”. Só em 2012, estas importações representaram, em termos monetários, cerca de €6.000 milhões.

Na linha da frente destas importações ligadas à desflorestação encontra-se o Reino Unido, os Países Baixos, a Alemanha, a França e Itália. De acordo com o estudo, os países mencionados importaram 75% destes produtos “roubados” e consumiram 63%.

“O facto de a UE ser líder mundial nas importações de produtos que fomentam a desflorestação já está bem documentado, mas esta é a primeira vez que temos dados que mostram que grande parte dessa desflorestação é ilegal”, afirma Saskia Ozinga, responsável da ONG, num comunicado que acompanhou a publicação do estudo.

“O consumo da UE não apenas contribui para a devastação ambiental como também para as alterações climáticas”, indica Sam Lawson, autor do relatório, no mesmo comunicado. “E a natureza ilegal da desflorestação também significa que está a promover a corrupção, a perda de rendimentos, a violência e a violação dos direitos humanos. Aqueles que têm tentado travar a desflorestação ilegal têm recebido ameaças, sido alvo de ataques ou mesmo mortos”, sublinha Lawson.

Quanto aos países de origem dos bens agrícolas derivados da desflorestação ilegal, o Brasil e a Indonésia ocupam a linha da frente, onde 90% e 80%, respectivamente, da desflorestação é ilegal. Porém, a Malásia, Paraguai, Camarões, República do Congo, Gabão, Laos, Papua-Nova Guiné e Camboja também fazem parte da lista de países fornecedores destes bens.

“A procura de bens que põem em risco a floresta está a ser motivada por uma série de políticas da UE ao nível da agricultura, comércio e energia”, adianta ainda Ozinga. “Precisamos urgentemente de um plano de acção par tornar estas políticas coerentes, reduzir o consumo da UE e garantir que apenas importamos bens legais e produzidos de forma sustentável”, conclui o responsável da Fern.

Foto: Greenpeace International / Creative Commons





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