Uso do solo, alterações climáticas e espécies invasoras estão a reduzir diversidade dos insetos em todo o mundo
O número de espécies de insetos, bem como de indivíduos, está em franco declínio em todo o mundo, e essas comunidades estão a tornar-se cada vez mais uniformes.
O alerta é feito num conjunto de artigos científicos, de investigadores da Europa, das Américas e da Austrália, que compõem uma edição da ‘Biology Letters’, lançada no passado mês de março, especialmente dedicada à diversidade dos insetos, um grupo de animais indispensável para o funcionamento e saúde dos ecossistemas.
“À medida que as paisagens se tornam mais semelhantes, por exemplo em terras agrícolas, também as comunidades de insetos se estão a tornar mais similares”, afirma Martin Gossner, do instituto suíço WSL, dedicado à investigação ambiental, e um dos autores do editorial dessa publicação.
Os artigos publicados evidenciam que os principais fatores do declínio dos insetos são o uso insustentável do solo, por exemplo, através de monoculturas intensivas, os efeitos das alterações climáticas e a proliferação de espécies exóticas invasoras, que ocupam os nichos ecológicos de espécies nativas.
Embora considerem que as espécies invasoras de insetos possam ‘compensar’ o desaparecimento dos nativos, ocupando os nichos deixados vagos e, assim, mantendo o equilíbrio do ecossistema, os autores dizem que a perda de espécies locais ou regionais pode reduzir a capacidade desse ecossistema para se adaptar a mudanças das condições ambientais, como temperaturas mais altas e menor teor de humidade.
Florian Menzel, da Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz (Alemanha) e outros dos investigadores que assina o editorial, explica que as espécies de insetos mais especializadas – que se alimentam de tipos particulares de presas e dependem de condições ambientais específicas – são os que mais estão a sofrer com esses fatores de pressão.
“É por isso que estamos agora a encontrar mais insetos que são capazes de viver em praticamente qualquer lado, enquanto essas espécies que precisam de habitats específicos estão em declínio”, salienta.
Além disso, a redução da diversidade de espécies e do número de insetos tem consequências que extravasam esse grupo taxonómico. Um dos exemplos citado nos artigos é o do declínio da diversidade de abelhões, do género Bombus, extremamente importantes para a polinização natural de inúmeras plantas, que dependem dessa ação para se reproduzirem.
Sem os abelhões, e muitos outros insetos polinizadores, como os sirfídeos e as borboletas, entre outros, várias espécies de plantas correm o risco de desaparecerem, colocando, por sua vez, a estabilidade dos ecossistemas na ‘corda bamba’. Como se não bastasse, menos insetos significa também menos alimento para as aves insetívoras.
Assim, o declínio dos insetos pode desencadear declínios em cascata, com consequências para todo o ecossistema. Incluindo para os seres humanos, uma vez que, segundo estimativas da Agência Europeia do Ambiente, na União Europeia 84% das culturas agrícolas dependem, pelo menos parcialmente, da polinização levada a cabo pelos insetos.
Para se poder evitar o que alguns já chamam de ‘o apocalipse dos insetos’, os autores defendem o reforço dos sistemas de monitorização das tendências populacionais dessas espécies e dos habitats dos quais dependem, e das interações entre uns e outros, bem como o restabelecimento das ligações entre habitats fragmentados, a definição de áreas protegidas que incluam ou que sejam especialmente dedicadas aos insetos, e mais esforços para “prevenir e mitigar as invasões de espécies fruto da ação humana”.
“Ao invés de apenas se fazer ‘mais investigação’, precisamos urgentemente de implementar medidas de conservação e de restauro de habitats que se saiba que promovam e protejam eficazmente as populações de insetos e comunidades diversificadas para evitar uma maior homogeneização”, escrevem os especialistas.