Utilização em larga escala de biomassa florestal para energia é uma ilusão perigosa



123 organizações da sociedade civil à escala mundial uniram-se para declarar que o uso de biomassa florestal para energia renovável é uma ilusão no que respeita à mitigação das alterações climáticas. Os 123 grupos de cerca de 30 países pedem o fim dos subsídios e do apoio político para a utilização de bioenergia em larga escala.

O manifesto foi apresentado hoje e assinado por um número sem precedentes de organizações, e mostra a oposição a este tipo de produção de energia. O apoio internacional provém de organizações tão diversas como a Greenpeace Internacional, o NRDC, a Fundação Leonardo DiCaprio e a Dogwood Alliance nos EUA, Amigos da Terra na Bósnia-Herzegovina ou o Milieudefensie na Holanda.

O manifesto é divulgado no Dia Nacional da Bioenergia e apenas algumas semanas após o lançamento do último relatório do IPCC sobre o aquecimento global de 1,5 graus. O relatório destacou a importância das florestas na tarefa de limitar o aumento da temperatura global.

As 123 organizações signatárias, entre as quais está a ZERO, acreditam que a queima de madeira florestal para produção de energia em grande escala não pode ser parte de um futuro sustentável. Em vez disso, devemos proteger e restaurar as florestas naturais para realmente reduzir as emissões e remover o carbono da atmosfera.

Peg Putt, coordenadora do grupo de trabalho da Environmental Paper Network disse: “O recurso à biomassa florestal representa uma enorme perda ambiental que motivou esta forte declaração de preocupação de tantos grupos. Apelamos aos decisores políticos, aos financiadores, aos mercados e aos consumidores para abandonarem o apoio à produção de energia em larga escala a partir das florestas.”

Francisco Ferreira, Presidente da ZERO, disse: “Em Portugal, tem de ser absolutamente claro que o limite aceitável para o uso de biomassa florestal é o recurso aos resíduos florestais, nomeadamente associados às ações de limpeza florestal, não promovendo a queima de matéria-prima para a indústria da madeira.”

 

Energia renovável?
Já em setembro, Jean-Pascal van Ypersele, professor de ciências climatéricas na Universidade Católica de Louvain, falava do risco extremamente alto de a nova lei Europeia de energia renovável encorajar a desflorestação a nível mundial. Esta lei considera a queima de madeira uma energia renovável, por ser considerada uma atividade “neutra” do ponto de vista do carbono.

O manifesto agora apresentado pelas 123 organizações apresenta várias razões para acabar com a queima de biomassa para a produção de energia, como o facto de esta atividade não ser neutra no que toca às emissões de carbono (dado que são precisas décadas ou mesmo séculos para que as florestas se regenerem o suficiente para voltar a capturar as toneladas de CO2 emitido) ou o facto de ser uma atividade que prejudica florestas, ameaça a biodiversidade e a resiliência climática.





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