Vamos ter pessoas em Marte em 2035?



Os últimos 50 anos foram férteis em projectos falhados para levar o Homem a Marte, mas os próximos 20 anos poderão trazer novidades sobre este tema. Segundo Rui Jorge Agostinho, director do Observatório de Astronomia de Lisboa e professor do departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é “plausível que, dentro de 20 anos, as capacidades tecnológicas da NASA permitam abordar esta questão com maior optimismo”.

Segundo explicou o responsável ao site Tambora, o dilema não está na tecnologia, mas sim em “encontrar seres humanos capazes de o fazerem, o que é um problema quase intransponível.”

De acordo com o plano revelado pela agência espacial norte-americana, os anos 20 deste século assistirão a viagens orbitais ao Planeta Vermelho. Estas expedições lançarão naves tripuladas por robots para recolher informação e amostras do solo e atmosferas marcianas. “Para já, o calendário do plano está a ser cumprido: em Dezembro de 2014, a cápsula Orion foi lançada para o espaço, completou duas órbitas à Terra e amarou no Pacífico sem danos estruturais”, revela o Tambora.

Esta cápsula, integrada num módulo espacial ainda em desenvolvimento, será a casa da tripulação que fará a perigosa viagem de ida e volta. Uma combinação levada por um Space Launch System (Sistema de Lançamento Espacial) que integra um sistema de propulsores por módulos que vão “perdendo peças” à medida que esgotam a sua utilidade.

Este Sistema de Lançamento Espacial é a pedra de toque do projecto e representa o retorno à lógica de propulsor e cápsula dos Apollos dos anos 60 e 70. Rui Agostinho sublinha que o grande desafio com que a NASA se depara é “ter um lançador capaz de colocar pessoas em Marte e trazê-las de volta”.

O final da Guerra Fria encerrou, na prática, o programa espacial americano. Orçamentos reduzidos e material obsoleto conduziram aos desastres com os vai-vem. A turbulência que a NASA viveu nos anos 90 levou a que muitos quadros da agência partissem para o sector privado. O programa de exploração espacial demorou quase uma geração a reorganizar-se, mas a crise trouxe uma virtude: boa parte do trabalho desenvolvido é, agora, subcontratado a privados, partilhando o risco e aumentando a eficiência.

Os riscos de uma ida a Marte são inúmeros. Os astronautas da Estação Espacial Internacional estão a servir de cobaias para identificar os efeitos do isolamento num espaço confinado e em ambiente de gravidade zero: as consequências já estudadas incluem diminuição muscular, perda de visão, alterações da pressão arterial e da capacidade cardíaca e enfraquecimento dos ossos. Neste momento, a NASA conduz um estudo curioso envolvendo os gémeos Kelly. Scott Kelly partiu no fim de Março para a Estação Espacial e está previsto que seja a primeira pessoa a passar um ano fora do nosso planeta. O seu irmão Mark ficará na Terra e também será monitorizado. No final da missão de Scott serão ambos avaliados para que se perceba das eventuais alterações fisiológicas que ocorreram.

Uma viagem de ida e volta a Marte nunca demorará menos de um ano e meio. Durante o percurso, os astronautas estarão sujeitos a um nível de radiação cósmica equivalente ao que deveriam receber em toda a vida. Uma das funções dos veículos que percorrem o solo marciano – o Mars Curiosity é o carro actual – é medir o nível de radiação existente para se encontrarem formas de proteger os astronautas desta ameaça. Além disso, o director do Observatório de Astronomia lembra que “ter água e comida suficientes para uma viagem de dois anos é um desafio” que as agências espaciais ainda têm de superar.

Foto, Arizona (Estados Unidos): Kevin Dooley / Creative Commons





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