Vida selvagem na Europa recupera graças a políticas de conservação. Mas é preciso fazer mais, alertam cientistas



Várias espécies de animais selvagens na Europa registaram taxas de recuperação significativas comparativamente às perdas observadas em 2013. Um novo relatório, que abrangeu um total de 50 espécies, entre mamíferos, aves e répteis, revela que, em 2022, “continuamos a ver tendências positivas” quanto ao aumento dessas populações de animais no continente.

O estudo ‘Wildlife Comeback in Europe’ está na segunda edição, sendo que a primeira foi publicada há 9 anos, e foi encomendado pela organização conservacionista Rewilding Europe, e contou com a participação da Sociedade Zoológica de Londres, da BridLife International e do European Bird Census Council.

Embora “na maioria das espécies” analisadas se terem registado crescimentos populacionais, os especialistas alertam que algumas “podem atualmente está em declínio, apesar de terem recuperado de mínimos históricos”. Entre essas espécies estão a gaivota-de-audouin (Larus audouinii), o pato-de-rabo-alçado (Oxyura leucocéfala), e algumas populações de lince-euroasiático (Lynx lynx).

Por isso, os cientistas avisam que as recuperações apresentadas no relatório devem ser interpretadas com cautela e que não há garantias de que as tendências positivas se mantenham no futuro.

No que diz respeito às 24 espécies de mamíferos e à única espécie de réptil (a tartaruga-comum, Caretta caretta) abrangidas pela análise, o castor-europeu (Castor fiber) foi o que mais recuperou desde 2013, sendo que no campo específico dos herbívoros também o bisonte-europeu (Bison bonasus) registou uma das maiores recuperações.

Na esfera dos carnívoros, a foca-cinzenta (Halichoerus grypus) e o lobo-cinzento (Canis lupus) foram as espécies que mais cresceram na última década, sendo que, em contraste, a marta (Martes martes) e o urso-pardo (Ursus arctos) foram as populações que menos aumentaram.

Quanto às 25 espécies de aves avaliadas, o relatório indica que “aumentaram uma média de 470%”, mas foi a população do ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis) que mais cresceu na Europa desde 2013.

Relativamente aos mamíferos, os especialistas revelam ter descoberto que “os aumentos na abundância [dessas espécies] eram menos positivos” em área afetadas pela atividade humana, designadamente pela exploração e degradação ou alteração de habitats. No revés da medalha, em zonas onde foram implementados sistemas de gestão de conservação, essas mesmas populações mostram aumentos.

Reintroduções, limitações à caça e a expansão de áreas naturais foram os principais motores da recuperação das populações de mamíferos analisadas.

No que diz respeito às aves, as maiores pressões negativas derivam da agricultura, da construção de estradas e da presença humana, bem como a caça, sendo que os principais fatores de recuperação estão relacionados com proteções legais que proíbem, por exemplo, que os seus ovos sejam recolhidos.

“A aplicação de medidas de proteção e de legislação relevante, aos níveis regional e nacional, foi essencial para a recuperação de muitas espécies documentadas neste relatório, especialmente para as aves”, dizem os autores, que avisam que mais medidas são necessárias para assegurar a recuperação e a coexistência entre humanos e espécies selvagens carnívoras.

Apesar de reconhecerem que a Europa é uma das regiões do mundo onde os sistemas de monitorização de espécies são mais amplos e têm operado durante mais tempo, os autores do relatório salientam que “mantêm-se falhas no nosso conhecimento das espécies europeias, devido à falta de monitorização consistente ao longo do tempo que permita estabelecer tendências, ou à completa ausência de dados de alguns países”.

“A renaturalização pode apoiar o restauro de processos ecológicos e aumentar a saúde dos ecossistemas”, defendem os especialistas, sublinhando que essas abordagens devem ser parte integrante das políticas agrícolas da União Europeia e dos Estados-membros.

Para Frans Schepers, diretor-executivo da Rewilding Europe, a recuperação de muitas espécies selvagens na Europa foi possibilitada por um conjunto de fatores que atuaram, e atuam, em conjunto: “proteção legal, trabalho de conservação e esforços de recuperação de espécies”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...