Washington e Bruxelas: entre o casamento e o divórcio climático



Nestes últimos dias, Washington criticou a implementação de ajustes de carbono na fronteira por parte de Bruxelas, um pilar da fiscalidade verde europeia, mas por outro lado dispôs-se a restringir as emissões na aviação.

Os EUA e a UE “saíram cedo da casa dos pais”, em matéria climática. Desde o fim da década de 80, que os dois lados do atlântico apresentam propostas concretas para proteger o meio ambiente, uniram as mãos, desentendem-se e voltaram novamente a reatar, como um velho casal.

Nestes últimos dias, Washington criticou a implementação de ajustes de carbono na fronteira, um pilar da fiscalidade verde europeia, mas por outro lado dispôs-se a restringir as emissões na aviação, apesar de ainda no início de março as grandes companhias norte-americanas, terem batido à porta da sala oval, para pedir apoio financeiro estatal, para enfrentar uma crise de liquidez, muito maior que a de 2008.

A Comissão Europeia anunciou hoje que quer trabalhar com Washington para conter as emissões da aviação que, “apesar de não serem compostas por dióxido de carbono”, poluem gravemente o ambiente, anunciou hoje Damien Meadows, responsável interino pelo departamento da aviação da Comissão política climática da UE, citado pela imprensa internacional.

“Historicamente, estas emissões nunca foram realmente levadas em consideração. Talvez seja a hora de começarmos a trabalhar com os EUA para que tal aconteça”, defendeu Meadows.

“Se cooperarmos com os Estados Unidos, podemos tentar elevar os padrões de combustível para diminuir a quantidade de elementos químicos que prejudicam o clima”, acrescentou o responsável europeu, no discurso realizado hoje.

Outra via de cooperação possível, apresentada hoje por Meadows, para minimizar os efeitos climáticos negativos da aviação seria que responsáveis de Bruxelas e de Washington projetassem rotas de voos transatlânticos, diminuindo a repetição desnecessária de viagens e os respetivos rastos de condensação, como refere a Reuters.

Estas declarações surgem numa fase em que a União Europeia está a preparar medidas climáticas para serem propostas no segundo trimestre do ano. Estas passam, por exemplo, pela “utilização obrigatória por parte das companhias aéreas de uma parcela mínima de combustíveis verdes para abastecimento às aeronaves e a criação e reestruturação de impostos sobre combustíveis fósseis para que as companhias deixem de abastecer os aviões com querosene”.

Biden já deu sinais de que vai examinar o impacto da aviação no clima, como provou através da nomeação de Annie Petsonk para o cargo de diretora do departamento de aviação internacional da Secretaria de Estado dos Transportes.

Petsonk, advogada que é especialista em Direito do Ambiente, trabalhou durante anos no Fundo de Defesa Ambiental para pressionar os Estados Unidos a adotarem políticas mais rígidas contra as emissões da aviação, como lembra o New York Times.

Um estudo feito em novembro pelos cientistas do bloco europeu revelou que as emissões não compostas por dióxido de carbono “são responsáveis ​​por cerca de dois terços do aquecimento global causado pelo setor da aviação”.

Por outro lado, na semana passada, os parceiros desentenderam-se sobre o ajuste de carbono na fronteira, um imposto que Bruxelas vai impor às importações que mais emitirem carbono. A medida foi logo contestada por John Kerry, enviado presidencial para o Clima de Joe Biden, que lembrou ao Financial Times que este argumento deve ser utilizado só como “último recurso”.

No final de uma viagem de quatro dias, com o intuito de construir uma aliança climática transatlântica antes das negociações climáticas da ONU em novembro no âmbito da COP 26, o ex-secretário de Estado disse ao Financial Times que está “preocupado” com os próximos planos de Bruxelas. Kerry referia-se às taxas de carbono aplicadas às importações e pediu à UE que espere até depois da conferência sobre mudanças climáticas em Glasgow para avançar.

“É um verdadeiro imposto com consequências muito sérias para as economias nacionais”, sublinhou Kerry ao FT. “Esta medida é mais um último recurso, quando já não há possibilidades de compromissos conjuntos para a redução de emissões através de pactos”, referiu.

Bruxelas argumentou que o mecanismo do ajuste de carbono na fronteira vai ser projetado de maneira direcional e “cirúrgica”, penalizando apenas as importações de países que não assinaram um acordo para a neutralidade carbónica até 2050. Os mais afetados em todo o globo serão os Estados fornecedores de aço e cimento da Europa Oriental, norte de África e a própria Turquia.

O mecanismo é a peça central da fiscalidade verde da UE e a proposta preliminar deve ser apresentada em junho.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...