Washington Post veio a Lisboa à procura da saudade (com FOTOS)
“O eléctrico sobe e desce as colinas de Lisboa. As vistas abrem-se em todas as direcções – o rio Tejo que brilha ao fundo, as fachadas em ruínas de outrora grandes moradias, as varandas que servem de estendal e mulheres de cara enrugada que olham melancolicamente pelas janelas”. É assim que Anja Mutic, jornalista do Washington Post, descreve o percurso do histórico eléctrico 28 que percorre alguns dos locais mais emblemáticos da capital.
Num artigo publicado no blog de viagens do jornal, Anja Mutic descreve a relação que tem com Lisboa, cidade que visitou pela primeira vez em 2005 e, desde então, se tornou numa espécie de segunda casa, em parte graças ao marido, luso descendente.
A última vez que esteve em Lisboa, esta jornalista veio à procura de uma coisa bastante específica: a saudade. “Vim com uma missão curiosa: encontrar a chave para um sentimento que me tem assombrado desde que descobri o país em 2005”, escreve Anja Mutic. “A primeira vez que pus os olhos em Lisboa, senti uma forma peculiar de melancolia. Nunca antes tinha estado em Portugal, portanto não havia motivos para estar melancólica”.
Só na segunda visita a Lisboa é que esta norte-americana soube o nome da estranha forma de melancolia que sentiu – era a saudade. “Estava a sentir a saudade, a famosa palavra portuguesa que não tem tradução. Pode-se descrevê-la como um profundo estado de ânsia por alguma coisa ou alguém que se ama. É o amor que perdura depois de alguém desaparecer. É um misto de emoções – alegria porque teve-se outrora essa pessoa ao nosso lado e tristeza porque ela já não existe – e provoca sentimentos pungentes”, escreve.
“Talvez tenha sido a saudade que me fez seduzir por Lisboa logo na primeira vez”, indica. Anja Mutic descreve a forma como é possível sentir a aura de melancolia que paira sobre a cidade ao percorrer as ruas meias desertas da Baixa Pombalina numa tarde solarenga de domingo, observando os eléctricos cheios de turistas que galgam os carris, os raios de sol que iluminam os telhados e as fachadas dos prédios antigos de Lisboa.
Anja escreve ainda sobre as casas de fado de Alfama e as tascas típicas que se podem encontrar por toda a cidade; os pastéis de Belém; a arquitectura das casas de Santos; os recantos das escadas da Mouraria e do Castelo; os turistas que enchem o Chiado e da tranquilidade dos dias e da agitação das noites no Bairro Alto.
No final de mais uma visita a Lisboa, Anja escreve que se sentiu frustrada por não ter conseguido sentir saudade. “O mistério da saudade persistia e parte de mim sentia que a minha busca tinha falhado. Não estava mais perto de sentir saudade, mas sabia que no momento que deixasse Lisboa ia sentir novamente um anseio característico. Foi aí que surgiu uma nova percepção sobre o sentimento: se tivesse encontrado o que procurava, a saudade teria desaparecido. E a própria essência da saudade é que ela permanece, prolongando-se até ao momento em que regressar a Lisboa”.
Foto: arlo j / Creative Commons
[nggallery id=331 template=greensavers]