Entrevista a Edna Correia, vencedora do Prémio Mulheres na Ciência 2021
A 18ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal Para as Mulheres na Ciência distinguiu quatro jovens cientistas portuguesas. Sandra Tavares do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Carina Soares-Cunha do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, Sara Carvalhal da Algarve Biomedical Center e Edna Correia do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, são as investigadoras selecionadas entre as mais de 72 candidatas, e recebem agora um prémio no valor de 15 mil euros, como incentivo à sua pesquisa e ao trabalho desenvolvido. Cancro, microcefalia, comportamentos aditivos e preservação de aves aquáticas, foram os temas abordados nas investigações desenvolvidas pelas cientistas.
A parceria L’Oréal-UNESCO Para as Mulheres na Ciência surgiu em 1998 e já permitiu destacar 3.900 cientistas. Em Portugal, está presente há 18 anos, tendo reconhecido 61 investigadoras portuguesas até ao momento.
A Green Savers entrevistou a bióloga Edna Correia, no âmbito deste galardão, que admite ser “uma sensação muito boa de reconhecimento do meu trabalho e de incentivo para o futuro”.
Como começa por explicar, “As zonas húmidas são ecossistemas altamente produtivos, com elevada importância para a biodiversidade, contribuindo com diversos serviços do ecossistema, que se traduzem em benefícios para as populações humanas (como agricultura ou atividades recreativas). No entanto, mais de metade das zonas húmidas a nível mundial foram já perdidas, principalmente devido à expansão agrícola. O arroz é uma das culturas com maior produção a nível mundial, cultivado maioritariamente em zonas húmidas transformadas para o efeito, e sendo a base alimentar de cerca de metade da população humana”. Como tal, o projeto “consiste em avaliar o valor intrínseco dos arrozais do estuário do rio Tejo para as aves aquáticas enquanto zonas húmidas artificiais, tendo em consideração os conflitos emergentes da coexistência entre o Homem e as aves aquáticas (como cegonhas, íbis, patos)”, revela.
O principal objetivo do estudo está em “compreender até que ponto os arrozais podem servir de alternativa para as aves que tradicionalmente dependem de zonas húmidas naturais. Para isso iremos fazer o seguimento com aparelhos de GPS de algumas das espécies de aves que usam frequentemente as zonas de arrozais, como a Íbis-preta (uma espécie muito abundante nos arrozais do estuário do Tejo), de forma a determinar de que forma e com que intensidade estes e outros habitats são usados por esta espécie. Prende-se também, com uma avaliação rigorosa do potencial prejuízo causado pelas aves aquáticas à produção de arroz de forma a contribuir para a criação de diretrizes para concertar uma coexistência sustentável entre as aves e os produtores de arroz.”
Em termos de resultados, espera-se “aumentar o conhecimento do valor dos arrozais e zonas adjacentes para as aves, bem como, através de uma rigorosa análise dos potenciais estragos causados pelas aves à produção de arroz, contribuir para reconciliar as preocupações dos produtores de arroz, com uma gestão dos arrozais em conformidade com conservação da biodiversidade”.
E que importância terá este projeto para o país? “A gestão sustentável dos ecossistemas é uma preocupação global, no entanto é necessário ter um conhecimento local de forma a conseguir tomas medidas de gestão adequadas a cada caso particular”, sublinha a investigadora. “Com o desenvolvimento deste projeto tentarei contribuir para uma melhor compreensão da importância dos arrozais para as aves aquáticas, que possa ser aplicado à sua conservação em Portugal. Este trabalho poderá dar diretrizes importantes para este tipo de gestão noutros países, no entanto, cenários ligeiramente distintos podem requerer abordagens ou soluções bastante diferentes”.