As políticas globais excluem muitas vezes os valores da natureza, revela relatório



O mais recente Relatório de Avaliação sobre os Diversos Valores e Valorização da Natureza, aprovado pelo representantes da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES), constata que as políticas desenvolvidas globalmente excluem muitas vezes os valores da natureza, focando-se nos lucros e no crescimento económico a curto prazo. A valorização da natureza nestas decisões é, para os autores, um fator-chave na crise da biodiversidade que o planeta enfrenta, bem como uma oportunidade para a combater.  Existem mais de 50 métodos e abordagens para tornar visíveis os diversos valores da natureza, como demonstram no relatório.

A avaliação metodológica foi desenvolvida ao longo de quatro anos por 82 cientistas e especialistas internacionais de áreas distintas, com base em 13.000 referências, incluindo artigos científicos e fontes de informação de conhecimento indígenas e locais. As medidas económicas e políticas definidas priorizam apenas alguns valores da natureza, mais especificamente com base nos valores de mercado, como aqueles associados aos alimentos produzidos de forma intensiva. O problema é que esses valores de mercado não refletem as mudanças que vão ocorrendo na natureza nem de que forma as mesmas afetam a qualidade de vida das pessoas e das espécies. Valores não comerciais, como a regulação climática e a identidade cultural, são tendencialmente ignorados.

Para ajudar os decisores a entender melhor as diferentes maneiras pelas quais as pessoas interagem e valorizam a natureza, os autores apresentam quatro perspetivas: viver da natureza, viver com a natureza, viver na natureza e viver como a natureza. Viver da natureza enfatiza a capacidade da natureza de fornecer recursos para sustentar as necessidades e os desejos das pessoas, como os alimentos e os bens materiais. Viver com a natureza tem como foco a vida ‘além da humana’, como o direito intrínseco dos peixes do rio de prosperar independentemente das necessidades humanas. Viver na natureza refere-se à importância da natureza como cenário para o senso de lugar e de identidade das pessoas. Viver como a natureza vê o mundo natural como uma parte física, mental e espiritual de si mesmo.

É ainda referido no documento que o número de estudos que valorizam a natureza aumentou em média mais de 10% ao ano nos últimos 40 anos. O foco dos estudos de avaliação recentes – entre 2010 e 2020 – tem sido a melhoria da condição da natureza (65%) e a melhoria da qualidade de vida das pessoas (31%), com apenas 4% focado em melhorar as questões de justiça social. 74% dos estudos de avaliação centraram-se em valores instrumentais, com 20% focados em valores intrínsecos e apenas 6% focados em valores relacionais.

Existem quatro pontos essenciais que podem ajudar a criar a mudança necessária para termos um futuro mais sustentável ​​e justo: reconhecer os diversos valores da natureza; incorporar a avaliação na tomada de decisão; reorganizar as políticas e os regulamentos para integrarem os valores da natureza; e mudar as normas e metas sociais subjacentes para que estejam alinhadas com os objetivos globais de sustentabilidade e justiça.





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