Comunidade Terras de Trás-os-Montes quer agricultura familiar a fornecer instituições
A Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes quer pôr a pequena agricultura a fornecer escolas e instituições no âmbito de um projeto apresentado ontem como estruturante para o território que envolve nove municípios.
O Agrisocial é o nome do projeto que nasce de um estudo em que a CI investiu 88 mil euros e que aponta a agricultura familiar que prevalece neste território como aposta para criar valor económico, fixar pessoas e combater o desperdício alimentar.
Praticamente metade da população dos nove concelhos desta CIM dedica-se à agricultura familiar, essencialmente para consumo próprios, mas com excedentes, sobretudo nas hortas, que poderiam ajudar a abastecer as cantinas escolas e instituições como lares ou hospitais.
Esta é a ideia base do projeto Agrosocial, segundo o presidente da CIM Terras de Trás-os-Montes, Jorge Fidalgo, que espera ter, “até ao final do ano, algo de concreto para apresentar ao Governo”.
O responsável falava à margem da apresentação de algumas das conclusões de um estudo, financiado por verbas comunitárias e realizado nos últimos meses, para a criação de uma estratégia de desenvolvimento do território assente na pequena agricultura e sustentabilidade demográfica.
Segundo dados apresentados na sessão que decorreu em Bragança, mais de 55 mil pessoas, praticamente metade da população, dedica-se à agricultura familiar em 25.900 pequenas explorações nos nove concelhos da CIM, concretamente Bragança, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Alfândega da Fé, Vinhais, Vimioso, Vila Flor, Miranda do Douro e Mogadouro.
No mesmo território foram contabilizadas mais de 300 respostas sociais com capacidade para servir 10 mil utentes, segundo dados relativos a 2020, além de escolas e outras instituições como hospitais.
O presidente da CIM Terras de Trás-os-Montes acredita que a região tem condições agrícolas para dar resposta a algumas necessidades de consumo destas instituições ao mesmo tempo que pode resolver o problema dos excedentes da agricultura para autoconsumo e tornar a pequena agricultura mais rentável e atrativa.
“Nós vemos essas instituições a ter que lançar concursos para adquirir determinados produtos que muitas vezes vêm de fora do território e, às vezes, do estrangeiro. Para nós isso não faz sentido porque se as pessoas souberem que produzem e que o seu produto vai ser adquirido e comercializado é um incentivo a que possam continuar a produzir dentro de determinados parâmetros e condições”, observou Jorge Fidalgo.
A CIM e as câmaras municipais “estarão dispostas a fazer, por exemplo, um centro de recolha de alimentos” a criar “um sistema de transporte de produtos, ir buscar ao produtor e ir levar ao consumidor”.
“Isso significa investimento, estamos a criar postos de trabalho e gerar economia dentro da própria região”, considerou.
O presidente da CIM alerta, no entanto, que para este projeto avançar é preciso que o poder central tenha em conta as especificidades deste território e defende que “as receitas para resolver os problemas não podem ser iguais para todos os territórios”.
O responsável reclama que “o Governo tem que criar aqui condições específicas para que estes mercados de cadeias curtas, quase diretamente do produtor para o consumidor, possam ocorrer de forma rápida e eficiente”.
“Se nos colocam entraves, se é tudo igual para o grande e pequeno produtor, evidentemente que o pequeno produtor, perante tanta burocracia e exigências fiscais, desiste logo desse tipo de projeto”, vincou.
Jorge Fidalgo disse ainda que o Agrisocial “é um elemento fundamental para a definição da estratégia da CIM nos próximos quadros comunitários” e considerou que “este é um projeto estruturante para o território”.