Não será possível acabar com a desflorestação até 2030 sem ações urgentes, defendem especialistas
Em 2021, a desflorestação a nível global caiu 6,3% face ao ano anterior. No entanto, as metas estabelecidas para travar a destruição das florestas em todo o mundo até ao final da década estão longe de ser atingidas.
De acordo com o estudo ‘Forest Declaration Assessment’ divulgado esta segunda-feira, e que contou com a participação organização da sociedade civil e do mundo académico, no ano passado foi desflorestada uma área total de 6,8 milhões de hectares, aproximadamente do tamanho da República da Irlanda. Além dos efeitos negativos sobre as plantas e animais e sobre os ecossistemas, a perda de floresta emitiu 3,8 gigatoneladas de gases com efeito de estufa para a atmosfera.
No ano passado, em Glasgow, Reino Unido, na cimeira climática das Nações Unidas, a COP26, os governos do mundo acordaram em tornar mais ambiciosas as metas ambientais no atual contexto de crise climática, tendo 145 governos subscrito a Declaração de Glasgow, que prevê travar e reverter a perda de floresta e a degradação dos solos até 2030.
“Mas, um ano depois, a falta de transparência sobre como esses compromissos são alcançados impede a responsabilização e um verdadeiro progresso”, criticam os autores.
Esta análise revela que nenhum dos indicadores plasmados nessa declaração está totalmente concretizado e que, por isso, é expectável que as metas para 2030 não sejam alcançadas. “O financiamento para proteger e restaurar as florestas deve aumentar em 200 vezes face aos níveis atuais”, sublinha o relatório, e que os povos indígenas e as comunidades locais, “os melhores gestores da paisagem florestal”, devem ser incluídos nos processos de tomada de decisão, o que hoje não acontece.
David Gibbs, investigador do World Resources Institute, refere que “múltiplos dados mostram-nos que o mundo não está a caminhar na direção certa para alcançar os nossos compromisso para proteger as florestas”. E, em referência à próxima cimeira do clima que se realiza em novembro, no Egipto, afirma que se poderá esperar novas rondas de “compromissos vazios” que continuarão a deixar as florestas desprotegidas.
Por sua vez, Franziska Haupt, dirigente da Climare Focus, diz frisa que “os governos e o setor privado têm de implementar reformas audaciosas” para valorizar as florestas que ainda se mantém de pé, com base na transparência e em medidas de responsabilização daqueles que as destroem.
Contudo, apesar do fracasso global em cumprir as metas para as florestas até 2030, há alguns progressos assinaláveis. Segundo a análise, os especialistas verificaram que a região da Ásia tropical é a única em que é possível prever que a desflorestação terminará até ao final desta década, com especial destaque para a Malásia e para a Indonésia, sendo que esse último país tem vindo a reduzir o ritmo de desflorestação consistentemente ao longo dos últimos cinco anos.
Em África, países como o Gana, a Costa do Marfim, o Uganda e a Tanzânia implementaram medidas para travar a destruição das suas florestas, reduzindo “significativamente” a exploração dos recursos nessas áreas. Contudo, esses esforços, ainda assim, não são suficientes para cumprir as metas definidas para 2030.
“Os povos indígenas e as comunidades locais estão na linha da frente da proteção e salvaguarda das florestas, apesar dos riscos significativos que correm ao fazê-lo”, recordam os autores, pelo que “assegurar os seus direitos e que têm acesso a financiamento é uma das soluções climáticas mais eficazes”.
Entre 2000 e 2020, a cobertura florestal do planeta aumentou 130,9 milhões de hectares, abrangendo 36 países, mas esses ganhos “nunca conseguirão compensar a perda de floresta em termos de armazenamento de carbono, de biodiversidade e de serviços de ecossistema”, avisam os especialistas, apontando que “a perda de florestas primárias não pode ser colmatada pela simples reflorestação”.
Assim, “as florestas que estão hoje intactas têm de manter-se intactas”.
O relatório adianta também que menos de 1% do financiamento necessário para proteger e restaurar as florestas está atualmente a ser usado, e que os custos da resolução que derivam da destruição são bastante maiores do que os custos para prevenção.
“Por agora, o progresso climático é uma ilusão, tal como o financiamento climático, mas as transparência pode ajudar a perceber até onde temos de ir para nos colocarmos no caminho certo e quão rápido temos de fazê-lo”, salienta Erin Matson, da Climate Focus.