Abelhas sociais viajam distâncias maiores do que os ‘parentes’ solitários para encontrar alimento, revela estudo
As abelhas sociais, como a abelha-do-mel, por exemplo, percorrem distâncias maiores para encontrar alimento, néctar e pólen, especialmente abelhas maiores, como os abelhões, comparando com espécies solitárias.
De acordo com um estudo publicado na revista ‘Current Biology’, quanto mais social for uma espécie de abelha, maior será a distância que poderá percorrer, podendo chegar a ser três vezes superior à distância feita por abelhas solitárias.
Os autores Christoph Grueter e Lucy Hayes, da Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, escrevem que abelhas como a Apis mellifera produzem menos mel se precisarem de procurar alimento, ou materiais para as colmeias, a distâncias maiores, o que poderá também reduzir a duração da vida da abelha.
“Apesar desses custos, indivíduos de algumas espécies frequentemente visitam fontes de alimento a distâncias impressionantes”, por vezes a quilómetros da colmeia, avançam os cientistas, especialmente se esses alimentos forem de qualidade e as opções junto ao ninho forem escassas.
Mas o que poderá levar essas abelhas a afastarem-se tanto dos seus abrigos? Os autores acreditam que estará relacionado com o facto de as abelhas sociais terem de enfrentar uma maior concorrência por parte dos indivíduos com quem partilham o ninho. Por isso, quanto maior a colónia, maior será a probabilidade de se deslocarem distâncias maiores para procurarem alimento fora das imediações da colónia.
Entre as espécies mais ‘destemidas’ que se afastam mais das suas colónias estão os abelhões, por terem asas maiores e por conseguirem voar mais rapidamente, traços que lhes permitem cobrir mais terreno com menor esforço.
Além disso, a dupla de cientistas defende que as abelhas que vivem em colónias desenvolveram estratégias de comunicação que lhes permitem transmitir aos restantes membros da comunidade que num dado local distante existem fontes de alimento mais abundantes, permitindo, assim, que as abelhas estejam mais dispostas a aventurar-se longas distâncias.
O artigo diz também que as abelhas tendem a focar-se num só tipo de flor por cada saída em busca de pólen e néctar, pelo que terão de fazer viagens mais longas para encontrarem a flor preferida, optando por ignorar outras fontes de alimento mais próximas.
Descrevendo as abelhas como “importantes polinizadores” das plantas selvagens e das que crescem em contexto agrícola, os autores consideram que perceber as distâncias percorridas por esses insetos é essencial para avaliar e prever a disponibilidade de serviços de polinização e para criar “estratégias de conservação eficazes” para proteger não só esses animais ameaçados pela poluição, mas também as plantas que eles polinizam.
Estimativas da Comissão Europeia apontam para que 75% das explorações agrícola de todo o mundo dependam dos polinizadores para a sua produtividade.
Grueter explica que “os nossos resultados sugerem que abelhas solitárias poderão ser as mais afetadas pela perda e fragmentação de habitats causadas pelas atividades humanas, porque terão mais dificuldades em encontrar fontes de alimento adequadas a maiores distâncias”.
Por outro lado, as abelhas sociais “poderão ser particularmente importantes para a proteção de espécies de plantas ameaçadas que existem apenas em áreas isoladas”, detalha o cientista.
Referindo-se aos esforços internacionais em curso para travar a perda da natureza e para restaurar ecossistemas, Grueter assinala que o estudo “vai ajudar-nos a perceber como projetos de reflorestação e renaturalização podem afetar e ser afetados pelos diferentes tipos de polinizadores”.