Aquecimento global: Ar seco poderá afetar mais algumas coníferas do que a falta de chuva

Uma das dimensões do fenómeno das alterações climáticas, apontadas como uma das crises planetárias que hoje enfrentamos, é a subida da temperatura da Terra, que terá efeitos devastadores num sem-número de ecossistemas e que ameaça a sobrevivência de muitas espécies, em terra e no mar.
Apesar de se considerar habitualmente que a falta de chuva é um dos principais fatores que coloca em xeque a flora, a falta de humidade no ar poderá ser mais perigosa para algumas espécies de árvores do que a escassez de chuva.
Um grupo de cientistas da Oregon State University, nos Estados Unidos, analisou a capacidade de resposta de abetos-de-Douglas (Pseudotsuga menziesii) a um planeta mais quente e mais seco. A investigação centrou-se as populações dessa espécie localizadas na região noroeste dos EUA, na costa do Pacífico, onde a espécie, segundo os especialistas, tem um grande valor ecológico, cultural e económico e “saber como as árvores respondem à seca é crucial para compreender a sensibilidade da floresta num clima em mudança”.
Esta espécie de conífera tem uma distribuição que se estende do Norte da Columbia Britânica ao centro da Califórnia, incluindo também as Montanhas Rochosas e a parte nordeste do México e podem atingir grandes alturas, sendo que há registo de um abeto-de-Douglas com 90 metros.
Recorrendo a modelos de computador, a equipa simulou a resposta de abetos-de-Douglas com 50 anos de idade a condições de menos chuva e de menos humidade no ar, dois fenómenos que costumam estar interrelacionados e que, apesar de habitualmente se observarem no verão, tenderão a ser mais frequentes e duradouros à medida que as alterações climáticas ganham força.
Analisando separadamente os efeitos da falta de chuva e da falta de humidade no ar, os especialistas perceberam que a escassez de precipitação, sobretudo durante a primavera e o verão, terá um impacto relativamente mais reduzido na produtividade das florestas de coníferas do que o ar mais seco.
Mesmo sem chuva, o stress hídrico das árvores poderá ser mitigado com a água presente no solo, à qual as plantas podem aceder através das suas raízes. No entanto, a falta de humidade no ar deverá causar stress hídrico independentemente da água presente na terra.
“A redução da precipitação na primavera e no verão não teve um efeito tão grande no stress hídrico dos abetos-de-Douglas, porque a humidade continuava a ser grande no solo”, explica Karla Jarecke, uma das autoras do artigo divulgado na revista ‘Agricultural and Forest Meteorology’.
“Isto mostrou que o efeito da precipitação reduzida no quadro das alterações climáticas futuras poderá ser mínimo, mas dependerá da disponibilidade de água no subsolo, que é determinada pelas propriedades do solo e pela profundidade das raízes”, detalha.
Definindo esse fenómeno como ‘secas atmosféricas’, Kevin Bladon, outro dos autores, explica que a falta de humidade no ar poderá ser um fator que acelera substancialmente a morte de árvores, além de fazer disparar os riscos de fogos florestais. Por isso, argumenta que é fundamental perceber como é que as árvores são capazes de reagir ao aumento da temperatura planetária para ser possível agir rápida e eficazmente para mitigar os efeitos das alterações climáticas sobre as florestas, os ‘armazéns’ de carbono e os geradores de oxigénio do mundo.
“Compreender como as árvores respondem à seca é fundamental para perceber a sensibilidade das florestas às alterações climáticas globais, o que poderá ajudar a informar políticas e decisões de gestão das florestas”, escrevem os autores.