Parque nacional nos EUA pode ser ‘refúgio climático’ para lince-canadiano, uma espécie ameaçada
No Norte dos Estados Unidos da América, no estado do Montana, situa-se o Parque Nacional Glacier, na fronteira com o Canadá, abrangendo quase quatro mil quilómetros quadrados de área protegida, parte das Montanhas Rochosas e com zonas elevadas cobertas de neve.
O seu nome, no idioma do povo indígena Kootenai que habita nessa região fria, significa ‘local onde há muito gelo’. No entanto, de acordo com informações oficiais, entre 1966 e 2015, os glaciares desse parque nacional perderam grandes volumes, fruto de subidas anómalas da temperatura que fundem as massas geladas. Até ao final desta década, todos os glaciares do parque podem ter desaparecido para sempre.
No entanto, sabe-se que o Parque Nacional Glacier é um elemento central para a reprodução dos linces-canadianos (Lynx canadensis). Um novo artigo, publicado esta semana na revista ‘Journal of Wildlife Management’, revela que nessa área residem perto de 50 destes linces, um número que, dizem os investigadores, fica acima do que inicialmente se estimava.
Dan Thornton, da Washington State University e um dos autores, afirma que a população encontrada no parque é “substancial”, o que leva a crer que “o parque pode fornecer um tão necessário refúgio climático para os felídeos no futuro”.
O lince-canadiano é um predador especializado, tendo como espécie-presa de eleição a lebre-americana (Lepus americanus), embora haja registos de que se poderá também alimentar, ainda que não com tanta frequência, de esquilos. Este felídeo, que evoluiu para se adaptar a ambientes cobertos de neve, concentra-se nas florestas no norte dos EUA, embora a sua distribuição abranja também o Canadá, especialmente na região Sul de Alberta e da Columbia Britânica.
No ano 2000, o governo norte-americano classificou o lince-canadiano como uma espécie ameaçada. Embora nesse país não haja populações de grandes dimensões, os cientistas estimam que as regiões noroeste do Montana e norte do Idaho albergam os maiores núcleos norte-americanos e que, por essa razão, são fundamentais para a sobrevivência e manutenção da espécie.
Ainda assim, os investigadores reconhecem que fazer levantamentos populacionais das populações de linces-canadianos no Parque Nacional Glacier não é uma tarefa fácil, devido às severas características climáticas que caracterizam a área protegida. Então, decidiram usar 300 dispositivos de foto-armadilhagem, que colocaram a intervalos de um quilómetro em trilhos que suspeitavam serem usados pelo animal.
Sendo uma espécie que evoluiu para singrar em ambientes frios, os cientistas mostram preocupação quanto à sua capacidade para fazer face ao aquecimento do planeta. Mas alguns registos fotográficos permitiram perceber que alguns linces aventuravam-se para zonas menos elevadas e, por isso, menos frias, e entenderam isso como um sinal de que poderão, afinal, ter alguma flexibilidade, embora possa não ser ampla, para se adaptarem a climas relativamente mais quentes.
Os investigadores escrevem no artigo que, embora não se saiba ao certo como esta espécie reagirá às alterações climáticas, acreditam que, pelo menos do Parque Nacional Glacier, podem procurar áreas mais elevadas e mais frias para se protegerem do aumento da temperatura atmosférica, pelo que nessa área protegida poderão ter maiores hipóteses de sobrevivência do que em outros parques ou locais não-protegidos.