Peixes que se alimentam dos corais podem, afinal, ser benéficos para os próprios recifes
Os peixes que se alimentam dos corais, ou coralívoros, são tidos como agentes que enfraquecem os recifes, ao devorarem os pólipos e danificarem os seus esqueletos de carbonato de cálcio. Do outro lado da moeda, considera-se que os peixes que preferem comer algas ou detritos ajudam a manter os recifes saudáveis.
Contudo, a história pode, afinal, ser outra. Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos da América descobriu que as fezes depositadas pelos peixes ‘herbívoros’, de facto, causa lesões nos corais, algo que os creem estar relacionado com a presença de micro-organismos patogénicos. Em contraste, as fezes dos coralívoros não parecem provocar esses danos, sendo que podem mesmo contribuir, ao contrário do que se pensava, para a manutenção da saúde dos recifes.
“Os peixes coralívoros são geralmente considerados prejudiciais por arrancam pedaços dos corais”, elucida Carsten Grupstra, investigador da Rice University e primeiro autor do artigo divulgado hoje na revista ‘Frontiers in Marine Science’. Mas análises às fezes desses animais revelaram a presença de bactérias que estão associadas “aos corais saudáveis em condições normais”, o que, segundo o cientista, indica que esses peixes poderão estar a agir como dispersadores naturais de probióticos, ajudando os corais a combater patógenos nocivos.
Em experiências em laboratório, a equipa científica verificou que as fezes de peixes que se alimentam apenas de algas causaram lesões nos fragmentos de coral, sendo que alguns chegaram mesmo a morrer. Já as fezes dos coralívoros provocaram menos lesões e de menores dimensões e “raramente causaram a morte” do coral, explicam os autores.
As observações levaram os investigadores a concluírem que as fezes dos peixes herbívoros estão repletas de micro-organismos patogénicos, que podem causar danos, doenças e até a morte do coral, ao passo que as dos coralívoros revelaram uma maior abundância de micróbios benéficos.
“Os peixes que assumíamos serem prejudiciais podem, afinal, estar a contribuir para processos importantes que promovem a saúde do recife de coral”, argumentam, sendo que Grupstra sublinha que são precisos mais trabalhos de investigação científica para aprofundar o conhecimento sobre os efeitos das fezes dos peixes nos corais.
Só assim, defende, será possível perceber se as propriedades dos dejetos podem servir para, no âmbito de projetos de conservação, por exemplo, reforçar e até recuperar a saúde dos recifes degradados.
“Tanto os [peixes] coralívoros como os herbívoros desempenham papéis ecológicos importantes e compreender esses papéis pode ajudar-nos a melhorar a gestão e a conservação destes ecossistemas importantes”, observa o cientista.